11 de agosto de 2010

Um estojo de memórias

Quantas memórias cabem num estojo?

O que mais pode caber num velho estojo de madeira além de borracha, lápis e caneta? Num velho estojo fabricado por um jovem aluno do Estadual como atividade curricular há distantes anos atrás? Pois esse é o estojo “hand made” pelo Paulo Ricardo, na disciplina de Técnicas Industriais do nosso velho Estadual. Ele foi confeccionado, claro, com a finalidade de guardar e carregar os apetrechos escolares do Paulo Ricardo. Lápis pretos números um e dois, lápis de cor, borracha, apontador, caneta, régua, compasso... E para isso ele foi utilizado. Mas o tempo passou, e seu dono não quis mais carregá-lo junto com o material da faculdade. Ele lembrava um tempo de adolescência, não ficava bem junto com os livros mais grossos, a pasta mais transada e as canetas mais modernas. Ele era uma coisa de guri. De guri habilidoso. Mas de guri habilidoso do Estadual, o colégio que ficava agora só na memória do Paulo Ricardo. Vieram outros tempos, outras tarefas e outros equipamentos que não caberiam no velho estojo de madeira. E ele ficou guardado, assim, meio esquecido, lá no fundo de uma gaveta. Mas, mesmo assim, manteve sua classe. Não teve ciúme dos novos “estojos” usados pelo Paulo Ricardo, pela Dóris, pelo Gérson, pelo Ianzer, pela Heloisa, pela Norma, pelo Hamilton, pela Vera Luiza... Esperou tranquilo o tempo passar. Ele sabia que tinha desempenhado seu papel corretamente e sabia, também, qual era sua nova função. Ai, um dia desses, o Paulo Ricardo lembrou dele. Abriu a gaveta. Retirou umas coisas que estavam por cima, e ele estava lá, quietinho, desempenhando sua nova tarefa. A tarefa de guardar para sempre, dentro de si, todas as nossas lembranças. As lembranças do Miro, da Norma, da Janice, do Pedro, do Paulo Learci... As lembranças do tempo do lápis preto número dois, da borracha branca para desenho, do mata borrão. As nossas lembranças do Estadual, guardadas ali, apertadinhas dentro daquela singela caixinha de madeira. Para nós, do Estadual, muito mais que uma caixinha de madeira. Um verdadeiro estojo de memórias...

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Foto enviada pelo colega

Paulo Ricardo

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6 comentários:

Gerson Mendes Corrêa disse...

Tchê Vaz, eu também fiz essa disciplina no Estadual, não fiz nada de excepcional além de quase perder a ponta do dedão esquerdo na cerra circular, o professor era alemão, gente boa barbaridade e uma vez levou a nossa turma até a casa dele onde mantia uma "oficina", meu, o cara era um professor pardal, ele mesmo se classificava assim. Guardei na minha mente duas coisa que ele fez e nos mostrou: primeiro, um arco e flexa cuja flexa quando atirada sem ponteira de ferro fazia um buraco de uma bala 38 em uma madeira compacta de 1" (uma polegada), imagine só a força que a tal flexa era lançada, e em segundo lugar, um forno industrial elétrico. Haviam outras peças , mas as que me marcaram foram essas duas. Por sinal esse professor acredito que seja parente da nossa colega Heloisa Beckman, talvez o pai dela, penso isso porque ele era um verdadeiro artesão e como ela é chegada em artes e é Beckman, acabei associando.

Gerson Mendes Corrêa disse...

Tche loko, escrever serra com "c
" essa foi demais, so faltou eu por circular com "S". Que barbaridade! Desculpem, mas passou.

Hamilton Caio disse...

Vaz e Gerson, um fato é indiscutível: foram de importância extraordinária essas disciplinas, relativas a arte em geral, na nossa formação no Estadual. Na minha época, finais dos anos 50, no Ginásio, a matéria se chamava Trabalhos Manuais, e foi ministrada pela Profa. Ruth Machado e depois pela Profa. Leonor Araújo, esposa do Prof. Clementino Araújo. Na primeira série se concentrava em trabalhos com papel e cartolina e com técnicas de pintura nesses materiais. E, acreditem, metade da Geometria eu aprendi montando em cartolina os sólidos regulares. Na segunda série eram os trabalhos em madeira compensada, com a serra tico-tico. Ainda tenho uma miniatura de carrinho de mão, feito dessa madeira, embora já faltando um braço e a roda. Como não cabia numa gaveta, como o estojo do Paulo Ricardo, ficou exposto aos "acidentes domésticos".

Luiz Carlos Vaz disse...

E com essas serrinhas tico-tico, Hamilton e Gérson, nós montávamos os famosos "brinquedos de madeira para recortar", nada de furadeira, serra elétrica, lixadeira... era tudo no "muque". Depois era só encaixar, colar e... brincar!

Benjamim Carlos Simionato disse...

Parabéns pelo Blog e pelos textos e pelo nível dos comentários. Cheguei até aqui através do estojo "roubartilhado" no Facebook. É realmente uma pena as pessoas postarem coisas sem dar os devidos créditos. Gostaria muito de poder colocar esta foto do estojo com o seu texto em minha página do Facebook. Um grande abraço do Benjamim Simionato.

Luiz Carlos Vaz disse...

Benjamim, obrigado por passar por aqui e comentar. Podes publicar este ou qualquer outro material do Blog sempre citando a fonte, é claro.
Um abraço
Vaz