Anúncio de fuga de escravo publicado no Jornal Atalaia do Sul, em 1868,
e digitalizado do Cadernos Jaguarenses, vol. 2 - IHGJ - 1998
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Para onde foi o Ambrósio?
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Juliana Dos Santos Nunes
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Era noite alta e fria dos meses de junho, quando, no povoado do Espírito Santo do Serrito do Jaguarão, Ambrósio, de 26 anos desapareceu em busca de sua família. Era um mulato forte, de uma sensibilidade profunda. Contam os mais antigos que dentro dos olhos de Ambrósio podia se ver duas gotas pérola, deixando seu semblante mais enigmático, encantando quem chegasse perto do rapaz.
Todos desconhecem os motivos que levaram o pobre a colocar suas parcas roupas nas costas e sair, desatinado, noite de inverno a fora em busca de seus familiares que há muito havia perdido o contato. Viram-se pela última vez na cidade de Rio Grande, quando a desgraça do destino os separou quase para sempre.
Depois de alguns dias de caminhada, e enfrentando toda a sorte de riscos, chegou ao seu primeiro destino: a cidade de Candiota. Nesse lugar Ambrósio cria que estivesse sua família, entretanto o que possuía de concreto sobre isso eram as últimas palavras de sua mãe: “não se esqueça de mim meu filho, estaremos pelas bandas de Candiota”. E foram essas palavras que motivaram a fuga do jovem rapaz.
Sua trajetória poderia passar despercebida, se este jovem fosse uma pessoa comum, com o direito de ir e vir garantido, e não tivesse sido arrancado de sua terra natal e de sua família ainda menino e levado à fronteira jaguarense, para trabalhar sob o regime escravista, numa fazenda. Sobre esse jovem nada mais se sabe que a quantia que se pedia pela sua captura, os motivos que o levaram à fuga, o possível paradeiro e, especialmente, sua procura pela tão sonhada liberdade.
A liberdade almejada por Ambrósio só viria vinte anos mais tarde, com a abolição da escravidão em 1888. Devemos pensar, entretanto, que a lei Áurea livra os negros escravos dos açoites da senzala, como diz um antigo samba da Mangueira, mas os prende a um sistema que os deixou à margem da sociedade, além de enfrentar o preconceito étnico-racial.
Ambrósio é somente mais um exemplo de como existia a resistência, por parte dos escravos, ao cativeiro, ao açoite e ao sistema escravista, composto por grandes senhores. Sua fuga se deu em 1868 e sua figura é real, fazia parte do plantel de escravos da fazenda de Antônio Machado da Silva, e a última notícia que se sabe do seu paradeiro, foi quando passou pela cidade de Candiota, a fim de resgatar sua família e partir para o Estado Oriental e encontrar a liberdade. A sua fuga e a recompensa por quem encontrasse o pobre homem de 26 anos foi vinculada no jornal Atalaia do Sul de 1868, editado e publicado em nossa cidade. Espero que Ambrósio tenha conseguido atravessar a fronteira com sua família e alcançado seus objetivos, por agora só nos resta imaginar.
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Juliana Dos Santos Nunes
Historiadora
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Artigo inspirado em um anúncio de fuga encontrado pela pesquisadora nos acervos do IHGJ - Instituto Histórico e Geográfico de Jaguarão.
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Publicado em: Confraria dos poetas de Jaguarão
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8 comentários:
Que época triste e tenebrosa o meu querido Brasil passou quando resolveu escravizar o ser humano por causa da cor da pele do vivente, pois somos todos filhos de DEUS e Ele criou a raça humana, para mim não existe raça branca ou raça negra ou raça da cor que quiserem.
Pois, Vaz...
Que belo e interessante texto este que narra tristes e doídas verdades de uma época macabra da nossa realidade brasileira! Eu o consideraria uma "crônica histórica" - pela leveza da narrativa e pelo registro histórico de um fato singular que denuncia a situação plural de uma raça escravizada , de forma cruel e revoltante!
Ah, aqui, cabe bem lembrar nosso glorioso Castro Alves - aquele poeta da Chama e da Flor:
"Levantai-vos, heróis do Novo Mundo! / Andrada! arranca esse pendão dos ares! /Colombo! fecha a porta dos teus mares!"
Por isso, Vaz, que o poeta voava nas asas do condor...
Meus parabéns à historiadora Juliana dos Santos Nunes que, de forma espontânea, clara e sensível, nos "falou" sobre o Ambrósio!
Abraço,
JJ!
Quiça Ambrósio tenha cruzado a fronteira e conseguido, junto à sua família, como nos contos de fadas, ser feliz para sempre. O que importa é que eu quero que tenha sido assim..
Luiz Carlos,
Acompanhando, ansioso, o desenrolar da narrativa, fui me enfurecendo contra o jornal "X-9", à medida em que torcia para um final feliz para o Ambrósio. E encerrei minha expectativa, concedendo-me o direito de imaginar que ele conseguiu cumprir sua missão.
Abraço,
Sérgio.
Olha, Sérgio, a torcida é tão grande pelo desconhecido Ambrósio que eu acho melhor ir direto à Banda Oriental procurar seus descendentes.
De fato, Maribel, hoje poderemos cruzar - certamente, por um Ambrozito, lá pelas bandas do Aceguá.
Auriverde pendão de minha terra,
Que a brisa do Brasil beija e balança,
Estandarte que a luz do sol encerra,
E as promessas divinas da esperança...
Tu, que da liberdade após a guerra,
Foste hasteado dos heróis na lança,
Antes te houvessem roto na batalha,
Que servires a um povo de mortalha!...
Esse é o cara, JJ..,. bons tempos de Estadual, de recitar o Navio Negreiro...
Verdade, Gerson, viemos do pó e para la voltaremos, sem levar em conta detalhe algum desses que citas com propriedade.
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