Gaúcho Globalizado
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Nunca se escreveu - e se reescreveu, tanto sobre um fato chamado de Revolução Farroupilha. Até digo “chamado”, pois inclusive esse termo – Revolução, já foi questionado. Vários historiadores se referem ao fato de que comemoramos uma guerra perdida, que houve traição para com a tropa composta exclusivamente por escravos - os chamados Lanceiros Negros, que Bento Manoel trocou de lado, que a Paz de Ponche Verde foi apenas virtual pois não existe documento assinado por Caxias e Bento, e que o Imperador pagou todas as contas dos farroupilhas ao término dos combates, pois afinal, era uma guerra feita por fazendeiros ricos, não uma guerra do povo rio-grandense, que continuou pobre e dependente dos generais guerreiros e donos das terras...
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Mas, enfim, estamos em mais um 20 de Setembro, data para relembrar nossos heróis, nossas lutas, nossas vitórias – e, quiçá, nossas derrotas. Se ganhamos ou perdemos, azar! Vamos tirar o mofo da bombacha, arranjar um cavalo emprestado, desfilar garbosos na avenida e posar para a fotografia. Somos gaúchos com celular, e-mail e tablet. Nossos cavalos comem ração balanceada, a melhor erva mate vem do Paraná e a costela para o churrasco de domingo é daqueles bois brancos horrorosos, criados em São Paulo, que a tv insiste em chamar de “gado”. Somos gaúchos do século XXI, que importa se ganhamos ou perdemos! É 20 de Setembro! Vamos colocar a água quente numa garrafa inox comprada nos free shops do Uruguay, cevar um mate e levar a piazada para ver o desfile dos cavalarianos. Ali reconheceremos em muitos deles um Canabarro, um Garibaldi, uma Anita, e tentaremos explicar para os filhos por que uns usam lenços brancos, e outros, lenços vermelhos no pescoço. E de guerras, só cultuaremos e falaremos, mesmo, na Farroupilha. As guerras brutais, das famosas degolas, tanto a de 93 como a de 23, não nos interessa comentar muito e muito menos “comemorar” qualquer uma delas. A Guerra Farrapa, esta sim é que foi uma guerra buenacha, pois foi contra os imperialistas, foi feita por ideias como liberdade, igualdade, humanidade... mas as outras, a de 1893 e a de 1923, foram feitas entre nós mesmos, por pura disputa de poder, com os de casa, e o melhor mesmo será esquecê-las.
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E dê-lhe gaita, gaiteiro... é 20 de Setembro!
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E como diria o saudoso Rui Biriva: Vamo quebra tudo!!!
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6 comentários:
Um texto que reflete a personalidade de quem escreve, inteligente e irônico (perdão pela redundância), um prazer de leitura
pro dia 20 de setembro.
Grande Vaz
abraço
Alô, Ângelo! Obrigado pelo comentário. Um abraço!
Tchê Vaz, gostei muito deste texto, e digo mais, se foi revolução ou não, se perdemos ou ganhamos, se houve traição ou se não há documento assinado, isso não é o caso, o importante é que enfiamos uma adaga de 30cm até o cabo e ainda demos uma mexidinha pra doer mais no couro dos imperialistas fdp e diga-se de passagem que eles eram em maior número e com muito dinheiro, e mesmo assim nós declaramos a nossa independência, com tudo isso quero dizer que eles viram da pior maneira que o povo gaucho tem garra e não se entrega assim no más.
Tche, parabéns! Texto irretocável, com toda a acidez da verdade... muito a propósito.
Verdade, Gerson, e essa garra deve ser de todo ser humano com relação a tudo que se refere a exploração. Seja ele gaúcho, brasileiro, argentino, africano ou japonês...
JL, gracias. O que me motivou a escrever foi essa bobagem - que resurge sempre nessa época - de que só "nós" é que somos honestos, amigos, bravos, hospitaleiros... Nós somos iguais a todo mundo, não somos melhores nem piores do que ninguém. O resto é xenofobia, só isso.
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