20 de setembro de 2011

Gaúcho globalizado

Gaúcho globalizado veste Adidas e já não joga mais no Bicho, só na Mega Sena
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Gaúcho Globalizado
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Nunca se escreveu - e se reescreveu, tanto sobre um fato chamado de Revolução Farroupilha. Até digo “chamado”, pois inclusive esse termo – Revolução, já foi questionado. Vários historiadores se referem ao fato de que comemoramos uma guerra perdida, que houve traição para com a tropa composta exclusivamente por escravos - os chamados Lanceiros Negros, que Bento Manoel trocou de lado, que a Paz de Ponche Verde foi apenas virtual pois não existe documento assinado por Caxias e Bento, e que o Imperador pagou todas as contas dos farroupilhas ao término dos combates, pois afinal, era uma guerra feita por fazendeiros ricos, não uma guerra do povo rio-grandense, que continuou pobre e dependente dos generais guerreiros e donos das terras... 
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Mas, enfim, estamos em mais um 20 de Setembro, data para relembrar nossos heróis, nossas lutas, nossas vitórias – e, quiçá, nossas derrotas. Se ganhamos ou perdemos, azar! Vamos tirar o mofo da bombacha, arranjar um cavalo emprestado, desfilar garbosos na avenida e posar para a fotografia. Somos gaúchos com celular, e-mail e tablet. Nossos cavalos comem ração balanceada, a melhor erva mate vem do Paraná e a costela para o churrasco de domingo é daqueles bois brancos horrorosos, criados em São Paulo, que a tv insiste em chamar de “gado”. Somos gaúchos do século XXI, que importa se ganhamos ou perdemos! É 20 de Setembro! Vamos colocar a água quente numa garrafa inox comprada nos free shops do Uruguay, cevar um mate e levar a piazada para ver o desfile dos cavalarianos. Ali reconheceremos em muitos deles um Canabarro, um Garibaldi, uma Anita, e tentaremos explicar para os filhos por que uns usam lenços brancos, e outros, lenços vermelhos no pescoço. E de guerras, só cultuaremos e falaremos, mesmo, na Farroupilha. As guerras brutais, das famosas degolas, tanto a de 93 como a de 23, não nos interessa comentar muito e muito menos “comemorar” qualquer uma delas. A Guerra Farrapa, esta sim é que foi uma guerra buenacha, pois foi contra os imperialistas, foi feita por ideias como liberdade, igualdade, humanidade... mas as outras, a de 1893 e a de 1923, foram feitas entre nós mesmos, por pura disputa de poder, com os de casa, e o melhor mesmo será esquecê-las. 
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E dê-lhe gaita, gaiteiro... é 20 de Setembro!
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E como diria o saudoso Rui Biriva: Vamo quebra tudo!!!
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6 comentários:

Anônimo disse...

Um texto que reflete a personalidade de quem escreve, inteligente e irônico (perdão pela redundância), um prazer de leitura
pro dia 20 de setembro.
Grande Vaz
abraço

Luiz Carlos Vaz disse...

Alô, Ângelo! Obrigado pelo comentário. Um abraço!

Gerson disse...

Tchê Vaz, gostei muito deste texto, e digo mais, se foi revolução ou não, se perdemos ou ganhamos, se houve traição ou se não há documento assinado, isso não é o caso, o importante é que enfiamos uma adaga de 30cm até o cabo e ainda demos uma mexidinha pra doer mais no couro dos imperialistas fdp e diga-se de passagem que eles eram em maior número e com muito dinheiro, e mesmo assim nós declaramos a nossa independência, com tudo isso quero dizer que eles viram da pior maneira que o povo gaucho tem garra e não se entrega assim no más.

J.L. disse...

Tche, parabéns! Texto irretocável, com toda a acidez da verdade... muito a propósito.

Luiz Carlos Vaz disse...

Verdade, Gerson, e essa garra deve ser de todo ser humano com relação a tudo que se refere a exploração. Seja ele gaúcho, brasileiro, argentino, africano ou japonês...

Luiz Carlos Vaz disse...

JL, gracias. O que me motivou a escrever foi essa bobagem - que resurge sempre nessa época - de que só "nós" é que somos honestos, amigos, bravos, hospitaleiros... Nós somos iguais a todo mundo, não somos melhores nem piores do que ninguém. O resto é xenofobia, só isso.