30 de setembro de 2011

A filosofia e o cinema religioso - XXVIII, Gandhi

O Ciclo A Filosofia e o Cinema Religioso exibirá nesta sexta-feira, dia 30 de setembro, o filme Gandhi, de Richard Attenborough. O Ciclo, promovido pelo Departamento de Filosofia da UFPel, sob a coordenação do professor dr. Luís Rubira, ocorre todas as sextas às 20h, no Centro de Integração do Mercosul, em Pelotas. A entrada é FRANCA. 
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A programação completa do CICLO está disponível na página daUFPel

Sinopse - Gandhi, 1982, Inglaterra, direção Richard Attenboroug. Com Bem Kingslei, Candice Bergen. O percurso religioso e político de Gandhi, desde sua atuação como advogado na África do Sul, até seu assassinato em Nova Deli. Guia espiritual, ele levou a Índia a sua independência e buscava a unidade entre hindus e muçulmanos. O Mahatma (grande líder) foi leitor do Bhagavad-Gita, da Bíblia e de Thoureu, fazendo de sua vida uma prática dos conceitos de desobediência civil e de não violência. (190 min).
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Bagé Bicentenária - 1811/2011, Água de beber


Sem água não se vive. Por isso mesmo Dom Diogo acampou ali, na beira do arroio, com as suas gentes, antes de incursionar em direção ao sul com seus soldados. Mas, segundo nos relata o Cid Marinho, em sua preciosa colaboração ao jornal Folha do Sul, Bagé possuía excelentes fontes da mais pura água. Vejm só o que a "civilização" fez com a Natureza! E Bagé há muito tempo pena (desculpem o trocadilho) com a falta d'água! Mas quem também penou um pouco foi, como sempre, o JL Salvadoretti para "filtrar" as impurezas dessa reprodução da foto do arquivo do Cid publicada no no jornal que retrata a antiga Bica de Bagé em funcionamento.
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29 de setembro de 2011

Imagens do cotidiano, XLIV, Semana do Turismo

Foto e comentário do Nauro Jr. no Facebook
O meu amigo Nauro Jr., fotógrafo da ZH, fica inventando cada coisa... Até telefonema do médico eu recebi depois desta baita mentira que ele publicou no Facebook sobre minha respeitável e magra pessoa. Pô, Nauro, qual é?! Eu só tive o "azar" de ir passando pela sinaleira bem na horinha certa. Se eu tivesse te visto, claro, faria uma cara sisuda para as moças e diria: 
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- Não, obrigado, estou em dieta rigorosa!!
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Nota: pelo ângulo da foto até da a impressão que eu estou pegando mais do que um doce. Mas é só efeito da fotografia, nada mais.
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A Primavera dos amigos - VII, Azaleias

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A Danieli - que fotografou o pulo da gata Lilica - e que  também gosta da natureza, da Primavera e dos bichos, nos mandou esta foto. "... são Azaleias do jardim lá de fora. Amo as cores da primavera, os perfumes, que enchem nossos pulmões nesta época, e a passarada que inunda nossos ouvidos com seu canto maravilhoso."
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28 de setembro de 2011

Bagé no Google Street View


Já está no ar a nova ferramenta do Google. O Google Street View. Agora sim, acabou a privacidade... Fui, a conselho do Sérgio Fontana, dar uma voltinha por Bagé, "rever os amigos", mas não pude chegar até a frente do Estadual. Só consegui ir até a Esquina Bianchetti, Casa A Boneca... Quem conseguir, por favor, mande a imagem para o Blog.
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A Primavera dos amigos - VI, Bela Vista


Mas mesmo sendo Primavera nem tudo são flores! O colega JL Salvadoretti flagrou esta vista nada bela na entrada da nova Estação. Pelo visto tivemos uma grande baixa na Natureza!
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Os guarda-chuvas do amor - XIII, Chuva passageira


Chuva Passageira
Marcelo Freda Soares

Deve ter ficado em alguma cadeira, quem sabe no canto da padaria.
Tanto trabalho com o cabelo, a melhor roupa e o asseio
- lama, vem e me chama;
era tudo que eu não queria.

Poça, pedra, ladeira,
rogo que passe ligeiro;
entorse, torce a perna, mau jeito,
braço, dor e cotovelo.

O meu era simples e negro; carregá-lo ajudaria.
O dela florido e bonito, tão diverso deste clima.
Antes de mim - o sol primeiro,
antes do encontro, o fim do dia.
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Publicado no Blog da Morsa
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27 de setembro de 2011

Imagens do cotidiano - XLIII, O Pulo da Gata


O Pulo da gata!
Estava a Lilica a dormitar na janela quando o sol trocou de lugar. A Lilica não hesitou! Resolveu também trocar de lugar para continuar na ressoleira (*). Mas, ainda meio dormindo, errou o golpe de vista e foi ao chão! A Danieli que passava no momento – e só queria fotografar a Lilica no parapeito, acabou flagrando este magnífico Pulo da gata.
Para quem interessar possa, a nossa atleta olímpica ainda tem mais seis vidas para gastar...
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Visite o Blog da Danieli AQUI.
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Nota do Blog - Ressoleira, como - ressolana, forma usada por João Simões Lopes Neto, no conto Trezentas Onças, publicado pela primeira vez no Diário Popular de Pelotas, em 4 de abril de 1912.
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O Pôr do sol na minha cidade - XXIX, Aparecida do Norte



"Dia 28 de Agosto de 2011, um Domingo. Um passeio. Uma cidade. Uma Igreja. Uma oração. Eu e minha família fomos até a cidade de Aparecida do Norte, interior de São Paulo. Dentro da Igreja de Nª Sª Aparecida, vimos um belo pôr do sol, esbanjando beleza e harmonia para a alma."

"DEUS"
em sua infinita bondade nos ilumine
e através do brilho do lindo pôr do sol
e diante do dia maravilhoso que nos proporcionou,
envie a sua proteção e saúde para nós,
para os bageenses e para os brasileiros.
Obrigado Senhor! Obrigado Nossa Senhora!

Manoel Ianzer
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26 de setembro de 2011

Imagens do cotidiano - XLII, Répteis

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À sombra da velha árvore, lagartos dormem.
Na raiz que um dia será pedra, o animal espreita e sonha.
O círculo se fecha - tudo está em tudo.
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O colega José Luiz Salvadoretti anda fazendo "cobras e lagartos" com seu brinquedinho novo, uma Fuji FinePix S2800 ... Esta foi batizada de Répteis, pela Mirian Leila, sua irmã, que também é autora da legenda, que é um verdadeiro haikay. Os "répteis" são as raízes de um um Ficus Benjamina, localizado atrás do prédio da Rádio da UFRGS, que fica em frente ao Demec.

Imagens do cotidiano - XLI, Pernas pro ar


Alexandre S Gomes manda para o Blog esta cena que nos remete imediatamenbte ao famoso poeta pernanbucano, Ascenso Ferreira, que é o autor de:
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Filosofia
Ascenso Ferreira

(A José Pereira de Araújo -
"Doutorzinho de Escada").
 
Hora de comer — comer!
Hora de dormir — dormir!
Hora de vadiar — vadiar!
Hora de trabalhar?

— Pernas pro ar que ninguém é de ferro!
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Ascenso Carneiro Gonçalves Ferreira (1895 – 1965) Palmares, Pernambuco. 
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25 de setembro de 2011

A Primavera dos amigos - V, Anões


Mestre, Dunga, Dengoso, Soneca, Zangado, Feliz e Atchim também estão contentes com a chegada da Primavera. E possível que eles saiam da "prateleira", sejam colocados em algum jardim, e fiquem livres leves e soltos a espera da Bela Adormecida. Será que os nossos leitores e amigos sabem exatamente quem é quem na foto? Segundo o Almanaque do Biotônico, e para aumentar sensivelmente a cultura dos fãs do nosso Blog, vejam o nome dos anões em outras línguas: Inglês: Doc, Grumpy, Sleepy, Bashful, Happy, Sneezy e Dopey. Francês: Prof, Grincheux, Dormeur, Timide, Joyeux, Atchoum e Simplet. Alemão: Chef, Brummbär, Schlafmütz, Pimpel, Happy, Hatschi e Seppl. Espanhol: Doc, Gruñón, Dormilón, Tímido, Feliz, Estornudo e Tontín. Italiano: Dotto, Brontolo, Pisolo, Mammolo, Gongolo, Eolo e Cucciolo.
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24 de setembro de 2011

A Primavera dos amigos - IV, JJ Poeta

 Fotografia por JL Salvadoretti
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Primaverando...
J.J. Oliveira Gonçalves

Usando uma frase feita: a primavera é a estação das flores!

Bem... É verdade. E, sendo, pois, estação das flores, traz, com elas, as cores, os perfumes. Mesmo, os sons...
Faz, diga-se en passant, as mulheres mais suaves, mais belas, mais viçosas, mais sensuais... E, nesse primaverar, a Vida muda de cor e de fragrâncias... E os Sons também mudam. O murmurar dos insetos... O chilrear dos pássaros... Enfim, acende-se o gostosamente selvagem Cio da Terra!
Pã, com sua flauta doce e mágica, conclama a todas as criaturas para a dança amorosa do flerte, do namoro, do acasalamento... É hora de encantar a fêmea... É hora de sentir o toque da Carne... De ouvir os ruídos, os acordes mais íntimos e misteriosos da Alma! É hora, pois, de primaverar...
Ah, primavera dos meus Sonhos-Verde-e-Rosa... O Verde da chamada Esperança... O Rosa do Amor-Incondicional... Sim: da Idade cor-de-rosa da Vida... Enfim, primavera que renova... Que dá outra roupagem às coisas, à Natureza, aos animais, aos nossos próprios Sentidos e Sentimentos!
Com Emoção, assisto a esse cirandar fraterno da Natureza, com cantigas diversas e coloridas... Um “primaverar” revestido de Poesia, Beleza, Luz, Paz! Coisa de poeta – alguém diria... Coisas de Deus-Artista – eu digo, com absoluta certeza! Pois é preciso uma Amorosa Sensibilidade para que tais flores desabrochem - também e ainda - da Alma do artista... É imprescindível uma Percepção além da percepção, para enxergar as Luzes que só os olhos d’Alma – ou do Coração! – podem ver! Eis que a Linguagem da Arte é gêmea da Linguagem Poética: é a Meta-Linguagem!
Finalmente, à Irmã Primavera, eu digo: Bem-Vinda!! Que faças mais coloridos, esperançosos perfumados os dias... E mais gostosamente sensuais, suspirosas e prazerosas as noites - redundantemente primaveris.
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Nosso colega do Estadual, o Poeta JJ Oliveira Gonçalves, faz também Prosa para a Primavera.
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23 de setembro de 2011

Schlee e o Jabuti


Os finalistas da 53ª edição do Prêmio Jabuti, o mais tradicional prêmio literário do país, foram anunciados pela Câmara Brasileira do Livro (CBL). São dez concorrentes em cada uma das 29 categorias.
Na categoria Romance concorrem Rubens Figueiredo - "Passageiro do Fim do Dia",  João Almino - "Cidade Livre", Carola Saavedra - "Paisagem com Dromedário", José Castello - "Ribamar", José Roberto Torero e Marcus Aurelius Pimenta - "O Evangelho de Barrabás", Aldyr Garcia Schlee - "Don Frutos", Frei Betto "Hotel Brasil - O Mistério das Cabeças Degoladas", Evandro Affonso Ferreira - "Minha Mãe se Matou Sem Dizer Adeus", Per Johns - "Hotéis à Beira da Noite", Elias Antunes - "Suposta Biografia do Poeta da Morte" e Andréa Del Fuego - "Os Malaquias". 
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Romance Don Frutos, 511 páginas, Editora ARdoTEmpo, saiba mais sobre o livro AQUI.
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A Primavera dos amigos - III, Maude

                                                                                                                 Photo by Marília
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ensina-me a viver
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singela na estrutura
na folhagem
insignificante presença...

do tempo
sobrevivente
da perfeição
desafio...

com o espaço
não exigente
doa-se em plenitude
esbanja crença
promete sabor oferecer

ensina-me a viver...
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Maude, leitora assídua do Velha Guarda, saúda a Primavera com Poesia em seu Blog.
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A Primavera dos amigos - II, Sérgio Fontana

 
"A PRIMAVERA DOS TICO-TICOS

23 de setembro, 06h04 min - Primavera/2011. O ninho do tico-tico, feito de capim seco e raízes, está lá no pátio, escondido sob as folhas da orquídea, nascida [e crescida] por si só, sobre o tronco da acácia. A Primavera por aqui recém- chegada, dentro em pouco mostrará sua luz aos três tico-tiquinhos encomendados pela mamãe e pelo papai tico-tico.

Eu estou de olho neles."

A Primavera também é saudada no Blog do nosso leitor Sérgio Fontana, que também ressalta a preocupação dele com o ninho dos Tico-ticos.
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A Primavera dos amigos, Eliana Valença


"Enquanto as minhas plantas crescem, enquanto a Terra se movimenta e enquanto as frutas amadurecem, eu também broto, floresço e recebo."

O Blog da colega Eliana Valença também saúda a Primavera e suas flores.

Enfim, chegou a Primavera!


E chegou a Primavera! Este Inverno parecia não terminar mais... No Bosque do Estadual esta pequena muda de Primavera - Brunfelsia sp solanacea, só está aguardando a sua hora de crescer e poder mostrar a sua exuberância. Também conhecida como Manacá, ao seu tempo irá contribuir para dar mais cores e perfume ao "bosque" onde passamos muitas tardes tendo aulas, de Arte ou Português, com as professoras Raquel, Maria Veleda... e também penando na Educação Física com o Naguinho...
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22 de setembro de 2011

A filosofia e o cinema religioso - XXVII, Der Himmel über Berlin


O Ciclo A Filosofia e o Cinema Religioso exibirá, na próxima sexta-feira, dia 23 de setembro, o filme Asas do desejo, de Win Wenders. Cineasta alemão (1945), Wenders é autor de obras cinematográficas como "Sob o céu de Lisboa" e "Buena Vista Social Club". O Ciclo, promovido pelo Departamento de Filosofia da UFPel, sob a coordenação do professor dr. Luís Rubira, ocorre todas as sextas às 20h, no Centro de Integração do Mercosul. A entrada é FRANCA.

A programação completa do CICLO está disponível na página daUFPel

Sinopse: Der Himmel über Berlin, 1987, Alemanha-França. Direção: Wim Wenders. Com Bruno Ganz, Peter Falk, Beatrice Manowski. Buscando compreender o sofrimento e a alegria dos seres humanos, um anjo abandona a eternidade para tornar-se um homem. Ambientado na Berlim pós Segunda Guerra, o filme é um hino sobre a singularidade da existência humana. 128min.
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Nota: A edição do dia 16/9, do filme Viver - XXVI, não foi divulgada no Blog. 
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Aqui é assim mesmo

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Aqui é assim mesmo
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(Texto acerca de Contos de Verdades, de Aldyr Garcia Schlee)
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Paulo José Miranda
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Dedico este texto à minha querida amiga e jornalista gaúcha, Paula Russo
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Permitam-me, por favor, começar na Grécia Antiga, ao falar de Contos de Verdades, de Aldyr Garcia Schlee. Segundo Aristóteles, a diferença entre a história e a poesia é que a primeira debruçava-se sobre o que aconteceu e a última sobre o que poderia ter acontecido. Assim, desde esse tempo Grego, a literatura trata do que poderia ter sido. E a Atenas desse tempo fica tão longe da minha experiência quanto Jaguarão! Em verdade, o que poderia ter sido, muito mais do que o que realmente foi, é aquilo que nos leva à leitura. E parece por demais evidente o entendimento pleno de Aldyr Garcia Schlee acerca do ser da poesia, da essência da literatura.

A literatura começa com aquilo que o autor escreve muito bem no início do livro em “As Grandes Onças Brabas”: “(...) cada vez que venho aqui, perco um pouco o coração”. Este aqui a que o autor se refere é uma cidade fronteiriça, um vilarejo, um lugar mítico, como todos os lugares onde crescemos. Quando se cresce, nossa razão e nossa percepção nunca mais vão acertar com o que foi vivido aí, com o que continua subterraneamente a ser vivido alhures dentro de nós. Mas este aqui, que no caso é um cidade e um tempo que parece nunca ter existido, como tudo o que nos fascina, este aqui pode também ser uma aporia, pode também ser um modo de olhar a diferença do mundo e da injustiça. E é por esta injustiça que vamos começar, deixando o fascínio para mais tarde.

Permitam-me, então, por favor, e uma vez mais, uma pequena incursão à Grécia Antiga, desta feita a As Troianas. Porquê? Porque percorre ao longo deste livro de Aldyr Garcia Schlee uma clave humana que o liga ao grande poeta tragediógrafo Eurípides na tragédia As Troianas. Que tema é esse? A injustiça a que a mulher está votada neste mundo. Nesta tragédia, Eurípides mostra-nos algo mais do que mostra em outras poderosas e belas tragédias, mostra-nos que há ainda uma situação pior do que a situação humana: a situação humana da mulher (ao tempo de Eurípides). Contrariamente a outras tragédias que chegaram até nós, em que mulheres protagonizam a acção, como sejam os casos da Antígona, de Sófocles, ou da Medeia, também de Eurípides, a tragédia aqui não está ligada a uma má ou boa escolha na sua conduta (protagonizado por Antígona) ou à afectação de um tremendo pathos que nos leva a agir em direcção ao terror (protagonizado por Medeia). Tanto Medeia quanto Antígona poderiam ser homens, com algumas mudanças nas cenas, mas não Hécuba. Hécuba, protagonista de As Troianas, jamais poderia ser homem e esta tragédia mostra uma diferença essencial em relação às outras tragédias: a situação em que se está, em que Hécuba e as outras troianas se encontram, independentemente de ter sido ditada pela vontade dos deuses, ela não foi criada por nenhuma destas mulheres. Se Antígona traça seu destino ao dar um funeral digno ao seu irmão, contrariando tudo e todos, se Édipo traça seu destino ao matar o viajante que se lhe opôs no caminho e mais tarde a se deitar com a mulher mais velha por quem se apaixona, se Medeia traça seu destino ao se deixar vencer pelo ódio e seu destilado de vingança, Hécuba não teceu nada que a conduza a este seu fim. Para além dos deuses, foram os homens que a conduziram até aqui. Hécuba é vítima dos deuses e dos homens (não dos humanos em geral, mas dos homens em particular). E neste homens em particular, está ainda incluído uma mulher pérfida, Helena. Pois Helena não é aqui uma mulher, mas fraqueza dos homens.

Ora, é também isto que acontece nos livros de Aldyr Garcia Schlee. Como aquela expressão que se usa aqui no Brasil, o buraco é mais abaixo, com a apresentação da condição da mulher nos seus livros, a condição humana, o problema da condição humana é mais abaixo. A mulher aparece quase sempre como fraqueza dos homens, propriedade deles ou, no seu esplendor maior, o sofrimento humano para dentro, sofrimento humano calado, sofrimento humano profundo. Leia-se à pagina 18, ainda no primeiro conto do livro “A Flor da Aldeia”: “Inelda, sem surpresa, terá ficado sozinha como sempre, na estância. (...) mas o que quero dizer é que era apenas ela que ficava na casa, que nunca saia dali (ela só se lembrava de ter ido à cidade uma vez, quando o pai morreu) e que, desde a morte da cozinheira, desde que a filha dos caseiros tinha ido embora – desde muito – era apenas ela, sozinha, que se via com todo o serviço: fazia a comida: limpava, varria e espanava tudo; lavava e passava; cozia pão; costurava, cerzia e bordava...” A contraposição da solidão da mulher, deixada sempre em casa, sempre, para sempre, com a solidão do homem sozinho vagando pelas terras do mundo e sentado com ninguém nos bares das vilas e das terriolas mostra bem a miséria maior da mulher nesta vida. Para além da solidão humana, daquele que caminha pelo mundo entregue a si próprio e à incompreensão da vida, acresce ainda a solidão do abandono votado pelo homem, solidão de prisioneira, de mulher casada com um homem, presa na casa dele para sempre. E tem ainda pior, porque nesta vida tudo pode ser sempre pior. Leia-se agora à página 20: “Nunca seria diferente. Desde a primeira vez, desde a primeira noite, Inelda fora usada pelo marido como por obrigação. E era ocupada por ele, ainda, de quando em quando, aos trancos, depressa, sem um sorriso, sem um gesto, sem uma palavra de carinho. Como se tivesse por cima, a cobri-la, um animal.” Sem dúvida, não esperar um sorriso na vida é muito triste e pode atingir homem e mulher, mas ser ocupada é foda! Ser ocupada e nada poder fazer, sem nada sequer pensar que pode ser feito é a solidão máxima a que um humano pode ser votado. E este sentimento, que o autor nos atira à cara sem piedade, surge logo nas primeiras páginas do livro. O livro começa logo a violentar a nossa sensibilidade. Não faço mais citações, porque isso levaria a ler-vos o conto por inteiro.

Em “Luíza Vinha de Noite”, a mulher é nos relatada como algo que preenche o vazio da vida. Vazio que é tão somente não se saber o que fazer do tempo, sentir o tempo a sufocar-nos, por dentro, por fora, por todos os lados. Leia-se à página 29: “De cada vez que Luíza não vinha, deixava-me sozinha com o tempo: o tempo imenso que não tínhamos, alargando-se sobre mim a cada instante (...)” Mas Luíza, esta mulher, traz também o único poder que as mulheres deste livro têm: assombração! A mulher assombra a existência do homem, o querer do homem, a vontade dos homens. Luíza é, foi e sempre será um sonho! Quando a mulher não é prisioneira, escrava do homem, exerce sobre ele o seu verdadeiro poder, o poder de nos fazer sonhar. Mas a mulher é também violentada pela mulher, violentada na sua liberdade, nas suas escolhas, não só pelas palavras de outras mulheres acerca das suas decisões, mas até pela mãe, essa primeira mulher. Leia-se em “Amor Amor Amor”: “Ali no carro-motor, voltando para casa e levando a filha de volta como um traste sem préstimo, fazendo força para não chorar junto com a filha, a mãe de Celeste lutava para parecer calma e não discutir com a menina.” Mas uma pergunta irá repercutir em nossos corações, em nossas consciências: quem faz com que Celeste seja aos olhos da mãe um traste sem préstimo? Será que são as outras mulheres? Será que são os homens? Será que é o mundo?

E porque uma mãe precisa tanto de forças para não chorar? Porque é que uma mãe precisa, tantas e tantas vezes nesta vida, de ter forças para não chorar? E porque é que uma filha tem de mentir com tamanha veemência a uma mãe, gritando: “– É mentira, mãe! Eu nunca andei com esse homem... Te juro, te juro, te juro!” Porque chegam a Jaguarão, naquele dia, de carro-motor, uma mãe e uma filha abandonadas para sempre? Porque sentem que ao atravessar agora a Ponte, vindo de Pelotas, as vidas acabaram? Pelo desejo que um homem mais velho acalmou com a filha ainda criança de uma mãe? E mesmo que não se tenham tocado, se isso foi possível, a injustiça não foi feita? A injustiça dos homens sobre a decisão das mulheres?

Mas adentremos agora aquilo que me parece ser o núcleo duro da literatura de Schlee: o fascínio. E o fascínio de Schlee é pelo fascínio em si mesmo. O fascínio pelo humano, pela idade de ouro perdida que existe em cada humano, por esse estranho e inexplicável acontecimento que é a mudança de idade do humano, à imagem da mudança de pele das serpentes. O que é mais importante do que a verdade? O fascínio. Sem fascínio não tem poesia, não tem literatura. O fascínio por Jaguarão é a um mesmo tempo o fascínio pela poesia e o fascínio pelo humano que se perde de si mesmo, de cada vez que cresce.

Mas o que é propriamente isso a que chamamos “”fascínio”? Recuando uma vez mais no tempo, encontramos que a palavra latina fascinum tem de algum modo a sua origem na palavra grega βάσκανος, baskanos. Ora, baskanos era uma palavra usada pelos gregos no sentido em que alguém é atingido pela malícia ou pelo enganamento de outrem. O termo latino, fascinum, tem esta malícia como base, este ser levado no bico, como se diz em Portugal, ser levado na cantiga do outro, mas traz também uma novidade que a palavra grega não tinha: ficar sem querer ver outra coisa. Por conseguinte, o fascínio é ser levado na cantiga de alguém e ficar num estado de não querer outra coisa. Ficar encantado, ficar sob o efeito de uma qualquer coisa mágica, sob o efeito da cantiga do outro, à imagem do encantamento produzido pela flauta de Pan. Jaguarão e seu passado, o da história e o da poesia, isto é, do que foi e do que poderia ter sido, exerce um fascínio tremendo em Aldyr Garcia Schlee, e ele não quer ver outra coisa, outra cidade, outras paragens. Nenhum lugar do mundo exerce esse fascínio no autor, nenhum lugar o encanta como Jaguarão. E partindo da consciência deste fascínio, ele escreve e nos fascina, como quem se vinga. Literalmente, Schlee nos leva na cantiga dele, prostrando-nos num estado de não querer outra cantiga, pelo menos até que ela se acabe, até que o livro se feche na última página. Mas o fascínio de Jaguarão, com já se disse de passagem no início, não é somente o fascínio pelo lugar, mas pelo tempo. E o tempo, aqui, não é o tempo do lugar, mas o tempo de crescimento, o tempo em que o autor se deixava levar nas cantigas que lia, que via ou que lhe contavam, até mesmo várias vezes ao dia.

O tempo em que somos levados na conversa do outro e ficamos parados a escutar, como se nada mais importasse, é parte do fascínio que Jaguarão exerce sobre o autor. Não se confunda, contudo, isto, com a recorrente história do retorno à infância, ou a cantiga do fascínio pela infância perdida. O fascínio não é tanto pela infância perdida, mas pela consciência da existência de um tempo fascinante em nós. Leia-se à página 38, no conto “Missa por Rolando Vergara”: “(...) e toca-lhe um beijo na boca. // Foi tão rápido como não se imagina nem se consegue recordar por inteiro, mas até agora ela guarda na boca aquele beijo. Foi como se explodissem mil foguetes, revoassem dúzias de pombas, soassem todos os sinos lá na Praça da Matriz, em tarde de festa. Era como se ela ali tivesse despertado, tivesse acordado como num conto de fadas, porém – em vez de ter-se então quebrado o encantamento – foi então que começou o encantamento. // Quanto mais se precisa do tempo parado mais ele foge ligeiro. (...) Ah, o tempo! Ah o tempo que precisou de passar! Ah, o tempo!” Ao longo deste conto, o tempo surge quase sempre em itálico, em expressões exclamativas, como se se tratasse de um poema à parte, de um poema que acompanha o relato de Anita relembrando Rolando, de Anita perdida no encantamento, perdida no tempo e sua cantiga.

Ah, o tempo!  É aqui, nesta exclamação, que o fascínio se revela no seu máximo esplendor, porque o maior dos fascínios é o que nunca foi, que nunca é e que nunca será, como um poema. O tempo, a consciência do tempo será sempre a pele largada da serpente, que agora se olha e tudo faz parar, à excepção do que poderia ter sido, à excepção da poesia, da literatura, do fascínio. Há no humano, como condição ontológica, um lugar desconhecido que é, à falta de melhor expressão, uma vontade de fascínio, um desejo de ficar fascinado, um desejo de ficarmos nas mãos do outro; uma vontade de não nos pertencermos. É este constituinte do ser humano que Aldyr Garcia Schlee nos mostra, na sua tentativa de descobrir ele mesmo o que isso é e o que ele próprio é. Como escreve logo à página 11, acerca das grandes onças brabas, “Conta-se que elas atraíam e seduziam a gente com tal fascínio e encantamento que jamais qualquer um de nós pôde perceber que fora arrastado até ali a ponto de perder o coração.” E as onças brabas, aqui, além de serem o que são, também podem ser tudo o que esperamos que tenha acontecido ou que venha a acontecer.

Tem ainda, neste livro, as questões técnicas. Mais importante que isso: a consciência das questões técnicas. Só acerca disto, fosse eu outro que não eu, dava uma tese.

De qualquer modo, não quero deixar de salientar o conto “A Moça Dirundina”. Leia-se este conto e, se até aqui ainda não se tinha entendido o que era narrar, entenda-se agora de uma vez por todas, através das seguintes palavras com que o autor inicia cada pequeno parágrafo ou até algumas frases dentro desses parágrafos: “Imagine (...) Admita (...) Considere (...) Presuma (...) Figure (...) Pense no que terá feito o pobre do marido quando (...) Repare (...) Recorde que (...) Note ainda que (...) Se quiser, combinamos, que (...)”.

Mas este livro é, não devemos esquecer, um livro de fronteira: de vidas e lugares de fronteira. A única fronteira que conheci melhor ao longo da minha vida foi a fronteira entre ler e escrever: fronteira traçada por visões, e estas não têm identidade outra para além do que se vê e do que acontece. E foi só agora, com este livro de Aldyr Garcia Schlee, que compreendi por dentro, compreendi de compreender, que a leitura e a escrita são como Jaguarão: “Aqui é como do outro lado: manda quem canta melhor. Aqui, quando se vê as coisas acontecem.”

Sei que poderia terminar agora a minha apresentação, com a visão que pude, passando para o outro lado com estas palavras últimas de Aldyr Garcia Schlee acerca de Jaguarão, mas que eu leio, e sempre hei-de ler, como sendo palavras acerca do mundo: “Sei que é difícil acreditar, não é mesmo? Parece um mistério. Mas nunca se sabe direito o motivo.” De qualquer modo, prefiro acompanhar o autor, concordar com ele, e terminar precisamente com algumas palavras da última página do livro: “O tempo passou. E tudo que se conta talvez nunca se tenha sabido, assim como nunca se terá contado o que se pôde realmente saber. (...) a ponto de a gente não despertar para os idos, para o que foi, nem acordar para os havidos, para o que terá sido e já não saber o que é, o que poderá ser, o que será... a ponto de apagar-se até a imaginação.”

© Paulo José Miranda – edições ardotempo

Porto Alegre, 20 de Setembro de 2011
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Paulo José Miranda - Nasceu em 1965 na Aldeia de Paio Pires, a 16 km de Lisboa. É poeta, escritor e dramaturgo. Licenciou-se em Filosofia pela Universidade de Letras de Lisboa. É membro do Pen Club desde 1998. Viveu em Istambul entre 1999 e 2003, tendo viajado nesse período pelo Mediterrâneo e Médio Oriente.
Publicou três livros de poesia, cinco novelas (a mais recente em Junho deste ano), uma peça de teatro e um livro de aforismos acerca da América (EUA). O seu primeiro livro de poesia venceu o Prémio Teixeira de Pascoaes em 1997 e a sua segunda novela arrebatou o primeiro Prémio José Saramago em 1999. Recebeu uma bolsa de criação literária do Ministério da Cultura para escrever a sua terceira novela e uma outra da Fundação Oriente, para viver três meses em Macau e escrever a sua quarta novela (inserido no mesmo projecto que levou o escritor brasileiro Bernardo Carvalho à Mongólia e a escrever esse livro homónimo). Colaborou em revistas de vários países e há estudos acerca da sua obra em Portugal, Espanha, França e Brasil.
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Publicado em ARdoTEmpo
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