6 de setembro de 2011

“Amo-te, João!”

Gimp by JL Salvadoretti sobre foto de Alexandre S Gomes
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“Amo-te, João!”
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J.J. Oliveira Gonçalves
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Naquele tempo, era tão bom! Ganhávamos ruas e calçadas. Os corações cochichando. As Almas em algazarra. Éramos o centro de nós mesmos. E mesmo de outros olhares. De olhares furtivos. De olhares invejosos. Mas, também, de olhares que partilhavam de nossa flamante juventude. Do reboliço de nossa adolescência moleca e esmeraldina: existência, efervescência, quintessência de nós mesmos... Quando pensávamos perenes nossos Sonhos e nós mesmos nos julgávamos Imortais! As ruas eram cúmplices rumorosas, feitas de alegrias liricamente barulhentas, às vezes. Às vezes, cúmplices cheias de silêncios, de Enigmas, de queixumes... Tinham muito de mim aquelas ruas, (inesquecíveis!), do passado. E, de ti, ainda guardo, (dentro delas!), a vaidade feminina dos teus passos... E o mesmo é bom dizer sobre as calçadas. Largas como nossos Desejos... Familiares como tu e eu éramos familiares – um para o outro. Hoje, tanto tempo se passou desde aqueles tempos de Vinho e Mel, de Trigo e Amor, mas conservo ainda na memória, (que é sempre ontem!), os mesmos verões, os mesmos invernos, os mesmo outonos, as mesmas primaveras...

Em meu sentir de homem e em meus olhos de poeta, ainda sorris para mim. Ainda és os Verões e as Primaveras que colhi nas pétalas orvalhadas de tua boca... nas pianíssimas partituras de tu’Alma... Eu, porém, já me fiz Outono. E sigo os rastros de meus próprios passos para, me encontrando com o Inverno, sofrer a simbiose bela e dolorosa da Existência. Pensando assim, escrevendo assim, de repente, me parece que fui sempre Outono – as folhas da árvore da Alma caindo: Metáforas em contínua Metamorfose... Ser ou não ser – escuto Shakespeare murmurando-me na Alma dos Silfos que sussurram melodiosos, à minha janela... Enquanto a musicalidade dos pingos exíguos da Chuva são a melodia que a saudade, (esta noite!), canta em meu coração... Pensando mais além, lá no pretérito, já era eu também e ainda Inverno. Inverno quando o frio me lambia a face, (a enxugar ocultas lágrimas!), e me preparava o Espírito para a caminhada das intempéries da Vida. E aquele Inverno, lá, tu o aquecias com a brasa de teus belos olhos graúdos, com o ruivo Sol de teu Amor – primaveril e inocente.

Ah... tu e eu somos de um tempo dos corações gravados nas árvores, com a flecha de Cupido a transpassá-los – mais uma imagem de escandalosa alegria e encantamento, do que uma tácita metáfora de Dor, de cruel separação. Embora a Dor sempre nos espionasse e até risse de nós, por vezes. Embora separações sempre existissem. Menos para nós. Porque não admitíamos colocar entre gradis nossos corpos jovens. Nem erguer um muro entre nossas Almas apaixonadas. Não, separação para nós, não! Só para outros que não nós: os que não se amavam. Não se queriam. Fingiam, apenas...

Mas, um dia, também para nós nos restaram somente as penas. E foi um dia, apenas. Bastou um dia. E veio a tormenta e o tormento de ficarmos, (desde aquele dia!), irreversivelmente separados. Desde lá, então, não sei aonde andas. Se tens a mesma Alma. Se guardas o mesmo coração. De mim, simplesmente, sei que te trago, (ainda!), na asa de minh’Alma... Que te guardo, (inteira!), em meu coração! Em cada palavra que escrevo, escrevo um pouco de ti. Em cada rima. Em cada verso... E, se um dia leres esta crônica, lembra, (como eu me lembro!), que escreveste no banco de uma praça de nossa adolescência tudo o que podias escrever para mim, numa frase curta: Amo-te, João! Lá, tua declaração declarou aquele banco tosco, (e gostosamente preguiçoso!), um monumento vivo – em minha homenagem. Aqui, (neste compasso do Interlúdio da Vida!), a doce recordação daquele banco me traz um jeito assim de túmulo... e epitáfio... Seja como for, também gravei teu nome para sempre – e poderás lê-lo como o faço agora: na Eternidade, (intermitente e púrpura!), das Estrelas...
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JJ de Oliveira Gonçalves
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15 comentários:

Gerson disse...

Tchê JJota,um amor grande como o que descreves não morre nunca, apenas dá uma pausa. e esse amor que começou platônico, transformou-se físico, e desse estado passou a ser de borbulhantes paixões, e que hoje é saudades. Todavia o amor está latente entre suas almas e um dia o teu nome e o dela não estará mais gravado em um banco tosco de praça como mencionastes, mas sim nas estrelas, no silêncio do universo cósmico, e as gentes aqui na nossa pequinina Terra não sentirá, não ouvirá, mas verá o brilho dessa duas estrelas resplandecentes que traduzirá a alegria desse encontro eterno. Por enquanto deixa a vida rolar, vive a vida com alegria, porque nada acontece antes da hora. Um baita abraço índio velho.

Luiz Carlos Vaz disse...

JJ, eu acho que o Gerson andou abrindo pela "terceira vez" - o tal livro de filosofia, que ele diz ter aberto só em "duas oportunidades", ou está virando - também - poeta. Olha lá:
http://velhaguardacarloskluwe.blogspot.com/2011/05/book-is-on-table-xi-conhece-te-ti-mesmo.html

Abraços a vocês.

J.J. Oliveira Gonçalves disse...

Caro Vaz...
A bela e originalíssima emolduração do texto, ao mesmo tempo em que me encanta, me emociona... Maravilha, Vaz!!
Texto e imagem "casam" perfeitamente, formando um conjunto único, onde a poesia da palavra se esparrama, bucolicamente, pelo corpo Etéreo da Metáfora... E, entre um tempo imenso que parece eterno, fico a tecer lembranças e a tocar pretéritas imagens - enquanto vou procurando "acomodar" suspiros que cochicham - bem baixinho - entre as coxilhas que as geadas da Existência já encaneceram... E, assim, deixo que eles - esses suspiros vãos - se aninhem, carinhosamente, no ninho aconchegante das palavras, das metáforas, da poesia...
Claro, não vou falar do texto - seria cabotino se o fizesse. No entanto, sou obrigado a dizer que o texto ganhou nova vida, outro brilho, outra dimensão. Com certeza, com as artes do Alexandre Gomes e do J.L. Salvadoretti, com essa fotografia que me passa deliciosa sensação de Paz e Bem - por sua leveza e calidez... Confesso: vejo-a e sinto como se fora uma tranqüila cena de cinema... Com certeza, esse banco com tamanha e tão profunda declaração amorosa, é emblemático e, em sua pálida mudez, me diz muito aos Sentimentos mais íntimos que guardo, comigo, carinhosamente...
Ao Vaz, ao Alexandre Gomes e ao Salvadoretti, lhes sou sinceramente grato por esse mimo com que me presenteiam a Alma e fazem bater mais forte - apesar de já cansado - o coração!! Um dia, quem sabe, num papo descontraído, possa lhes falar algo interessante sobre o "reclame" das "Casas Loro" e das "Roupas Renner", estampado no banco "vazio e adolescente"...
Deixo, aqui, meu abraço franciscano e minha curiosidade sobre o "nascimento" dessa singular e bucólica fotografia.
JJ!

Camafunga disse...

Além do texto maravilhoso a sutileza da inscrição na foto, este negócio aqui esta ficando sério.

J.J. Oliveira Gonçalves disse...

Pois, Gerson - mano velho...
Que belas e fraternas palavras usaste para me consolar o coração e incentivar a Alma a continuar perambulando por estes (des)caminhos Existenciais... Sei que gostas de Química e te dás bem com as Exatas, mas, com certeza, creio que também te sairias bem se enveredasses pela trilha das Letras - pela presença de Espírito que está em tua palavra, (em teu coração!), e pela facilidade com que, assim, externas o que sentes, o que pensas.
Gerson, meu estimado: muito obrigado!
Abração bem bageense!
JJ!

J.J. Oliveira Gonçalves disse...

Oi, Vaz...
Pois, eu acho que o Gerson fez desse "compêndio" (rs) um silencioso e sábio conselheiro, um livro de cabeceira... rs... Mas, ele não nos diz, é claro... rs... Com certeza, nosso "mano véio" é um cara versátil, polivalente, Vaz, pois fez curso até para "decorador de interiores" (rs) no nosso inesquecível "Estadual"! E em suas viagens pelas trilhas da vida, foi se tornando um filósofo e um poeta do cotidiano. Afinal, como poderemos sobreviver e agüentar os "trancos" da vida sem filosofarmos e sem vermos/sentirmos a Poesia que Deus esparramou pelo Universo - como uma forma de confortar nossas Dores Existenciais? Poxa: o Gerson é esse cara "super-legal" que, entre outros, encontrei neste nosso "Velha Guarda"!
Abraço a ambos!
JJ!

J.J. Oliveira Gonçalves disse...

Olá, Marcelo...
Pois, de forma muito feliz e com muita propriedade, usaste uma palavrinha que traduz fielmente aquela inscrição no banco da praça: sutileza!
Com certeza, Marcelo, tua observação é verdadeira - renova e reforça minha curiosidade em saber como "nasceu" tão bela e significativa fotografia... rs...
Grato, pela generosidade do elogio, pois uma palavra de incentivo sempre nos afaga o coração e nos aquece a Alma!
Abraço fraterno!
JJ!

Jandadami disse...

#Meu amigo e poeta JJ O que eu posso dizer diante de tanta beleza? Sabe o que desejava? Ser Dilane ou ter um poeta que me amasse do jeito que você amou e ama Dilane. Tive poetas e apaixonados na minha vida mas, sumiram, não eram amores verdadeiros. Mas, vou levando minha vida como bem sabe e sempre esperando suas pérolas para ler e recordar que eu também vivi os ANOS DOURADOS onde o amor era coisa séria e não a brincadeira que é hoje.Parabéns mil. Besos Janda
Postado por httt;www.janda.blog.com às 11:01 AM

Gerson disse...

Tchê JJota e Tchê Vaz, acredito que em um futuro próximo estaremos os três conversando, e então vocês ficaram conhecendo particularidades que surpreenderá os dois, mas por enquanto deixemos a vida correr conforme seu curso, para que quando nos vermos na eternidade, olhemos para baixo para contempla-la e então diremos, tchê louco a nossa vida é como um rio, olhe as vezes raso, as vezes estreito, outras não, veja que curva, que turbulência naquela área, as vezes calmo e largo, as vezes profundo, assim somos, deixemos a vida correr co o um rio, pois a água sempre escolhe os melhores lugares para passar até chegar ao mar. Bah, acho que vou fechar esse livro de filosofia. Baita abraço.

J.J. Oliveira Gonçalves disse...

Estimada e mineira amiga Jandyra...
Muitíssimo grato por tua visita e pelas palavras sempre fraternas e generosas que me dedicas e ao meu singelo fazer poético!
Com certeza, nós que vivemos o esplendor daqueles "Anos Dourados", sabemos da beleza e da "imortalidade" dos Sonhos que, lá,tecemos... Vimos o viço do Lirismo e sentimos o desabrochar do Romantismo... Ah, era o namorar, a quarta-feira, o sofá, o cinema, o chá-dançante, eram o vinis, eram os versos de J. G. de Araújo Jorge... Enfim, era o Amor - sempre primaveril - ainda que a estação fosse o inverno.
Abração franciscano, minha poetisamiga!
JJ!

Valença disse...

Que Amor maravilhoso! Em tempos que o amor passou a ser "ficar", nada como saber que ele ainda pode "Ser".

O Arauto do Amor disse...

Nostalgicamente linda, essa crônica nos leva a viajar até uma época em que esses amores "verdadeiros", ainda que platônicos, integravam-nos até com aquela natureza bucólica que nossos netos jamais poderão, sequer, imaginar quão sadia e bela foi. Caro amigo poeta J.Jota o seu texto é digno de aplausos, em pé e com salvas. Abraços...

Luiz Carlos Vaz disse...

Obrigado pelo comentário, "Arauto", apareça sempre.

J.J. Oliveira Gonçalves disse...

Pois é, Valença...
Infelizmente, o "sinal dos tempos" a tudo banalizou... valores, sentimentos... O "ficar" disse que o namoro era coisa ultrapassada. E o Amor tornou-se visceralmente carnal... Esvaziaram sua Alma...
Apesar dos pesares, Valença, ainda acredito que o Amor - embora em extinção - ainda ande, por aí, refugiando-se em alguns corações, em algumas Almas que se encantam com a Sensualidade diáfana da Lua... com a colorida intermitência estelar...
Quanto a mim, sou um romântico que não tem mais jeito mesmo - um tanto shakespeareano... E minha vida tem a dramaticidade - incompreensível - de um queixoso e tormentoso tango...
Abraço poético!
JJ!

J.J. Oliveira Gonçalves disse...

Olá, caro "Arauto do Amor"...
Falaste, ou melhor: escreveste e disseste tudo - ou quase tudo - no que se refere ao Amor, que considero inerente Arte da Paz! Que o Amor contém, entre outras Artes, a Beleza... Afinal, pode o Amor não ser um Sentimento gostosamente belo?
Agradeço-te pelas palavras sempre fraternas e pela generosidade do elogio - sentindo-me útil e feliz por te propiciar essa "viagem" àquele passado onde não podemos mais voltar, mas que permanece vivo justamente na Chama da Saudade que mantemos acesa por ele... (Só quem ama sente saudade!)E, aí, nos deixamos levar pela Nostalgia que nos embala o coração e nos acaricia a Alma - não é mesmo?
Ah, o Vaz te fez um fraterno convite e eu reforço esse convite: aparece, "Arauto", por aqui, e traze teus comentários - num dedo de prosa ou de poesia... Tu que tens um confesso "encantamento" pelo Rio Grande do Sul. Boleia a perna, vivente, te achega!
Abração bem gaúcho!
JJ!