4 de setembro de 2011

Química


Química
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Marcelo Freda Soares
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Insolúvel, obscurecia a possibilidade de um novo encontro em fórmulas, de outra forma - já mergulhado em conteúdo etílico - catalisaria energias apenas para os fatos mais moleculares.

Cara cheia torna isotônicos fluídos e conteúdo que o funil ao copo acresce.
Magnéticos, o campo de seus olhos e órbitas, alteram meu sentido. Confundo de imediato pólos com poros, e mesmo saturado em éter, reduzo-me em agente mais volátil e tóxico.

Ao odor não há freons ou freios e até que ceda aos hormônios que agitam, balanço ao ritmo dos misturadores: dança, pouca luz e noite; desprezo os passos carreando intento para que vá direto aos meios.

Metano, etano, muito mal, mas penso: diminuída a proteção de ozônio, há chances de fuga para elucubração e crítica, portanto, tento.

Receptiva, emulsiona, sem emoção, meus reagentes: suor que exalo - já fui mais hidrofílico-, soluto juízo, aproximação e falo. Alotrópico, disfarço-me em bímano, mas esqueço o que dissolve do relaxo humano: banho!

Básica, retribuiu aos primeiros afagos, seguimos repartindo os mesmos condutores: dança, pouca luz e noite. Só radicais livres levam-se assim pelo desejo, a solução tampão para os desesperados que não dá espaço a rígidos parâmetros.

Então é nano, mano, funk, coisas da madrugada e outras bobagens. Disparo onde não importa o tema pois há sempre um lado positivo, embora os iguais demais  se afastam.

Raios, fricção e átomos!

Cáustica, interrompe o ato breve por comentários ácidos; resolve em si toda preparação de evento.

Odores, dores e abandono.

Fermentam em mim respostas inadequadas, mas a crítica, a esta marca, é como glicol dissolvido em água, logo: não há como reter gente. Solto, divido-me novamente em partes.

Insolúvel, volto a inércia, mas isso aí é física. Enfim, nem etileno ou estilete, nem pipetas suficientes, emborco novamente lento o resto do conteúdo impuro tentando preencher-me por moléculas que não mais se entendem.

Pelo menos... experimento.
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Marcelo Freda Soares
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11 comentários:

Maria Cristina Fabres disse...

Precioso! Maravilhoso jogo de palavras...parabéns!!!!
Afinal é prosa ou poesia?

Luiz Carlos Vaz disse...

...ou é Fotografia?

J.J. Oliveira Gonçalves disse...

Oi, Vaz...
Passando rapidinho por aqui - por este novo texto e foto do Marcelo - para dizer o seguinte:
- Claro, é tudo isso - mesmo... rs...
- Pois, que a Maria Cristina perguntou, me atrevo a responder que é as duas coisas numa só, ou seja: num só texto - prosa e poesia, poesia e prosa.
É prosa porque escrito como se fora apenas prosa... Mas é poesia porque está recheado/impregnado dela... Então, é prosa-poética.
É poesia - pela sua essência lírica, poética - mas nos dá a impressão de prosa pela "aparência" como se nos apresenta... Então, é um poema-em-prosa.
Bem, para mim, é uma crônica-poética - pela leveza do texto e pela poesia que o autor já traz implícita em sua maneira de exteriorizar seu "eu", assim, de forma leve e gostosa. Maria Cristina e Vaz: desculpem se me alonguei, na sincera tentativa de ser útil.
Abraço a ambos!
JJ!

Luiz Carlos Vaz disse...

Que nada, JJ, um poeta nunca se alonga, diz tudo, como tu, em poucas e poéticas palavras.
A prósito: Teu comentário foi uma prosa poética ou um verso em forma de prosa?

Maria Cristina Fabres disse...

Agradeço a proposital explicação e comentário, mas de tudo fica, sem dúvida, é a genialidade do Marcelo.

J.J. Oliveira Gonçalves disse...

Nada a agradecer, Cristina. Concordo plenamente! Apenas fiz um exercício reminiscente de quando fui professor de Literatura... Mas, como costumo responder para pessoas amigas que teimam em me chamar de professor - justificando que quem foi sempre o será: "fui" professor por mais de 30 anos, mas não sou mais. Contento-me em ser apenas um poeta-menor que já nasceu poeta lá em sua Querida Bagé e é sempre grato ao "Quinze" e ao "Estadual" - escolas em que estudou, enquanto menino e adolescente.
JJ!

J.J. Oliveira Gonçalves disse...

Pois,Vaz...
Felizmente, Literaura não é da área das Exatas... rs... Por isso mesmo, nos permite tanta "abertura" no comentar, no argumentar, na exposição e defesa de idéias, enfim, mesmo no ato solitário e solidário do escrever... Creio que ela é prima- irmã da Filosofia. Estimula-nos a arte da Retórica e até nos permite tergiversarmos... rs... Podemos ser "absurdos" - lembrando Kafka... Ou liricamente doces - lembrando Gibran... Ou, quem sabe, sermos severamente "obscuros/fúnebres" - lembrando Augusto dos Anjos ou Charles Beaudelaire, aos quais prefiro chamar de "góticos".
Bem, Vaz, "tergiversando", assim, digo-te que meu comentário é uma prosa (formato) onde não pude evitar recheá-la um pouquinho com poesia. Essa poesia é, justamente, meu "eu-poético"... Então, Vaz, se te parecer prosa, prosa será. Se te parecer poesia, será poesia. Ou os dois gêneros juntinhos-da-silva... rs... É isso, meu amigo - eis que Literatura não é das "exatas", o que te permite "escolhas" na defesa de tuas argumentações se "será isto ou aquilo"... rs...
Poxa! Mais uma vez, me alonguei... rs... Mas sou assim mesmo. Agora, não posso mais mudar, deixar de ser o que sempre fui: um cara que tem compulsão por escrever... rs...
Abraço poético!
JJ!

Juca Filho disse...

Gostei muito da percepção e das colocações do Oliveira Gonçalves, e que bom que estão a divulgar a escrita do Camafunga, eu, e outros, já cansamos de tentar estimula-lo a fazer um livro, quem sabe com mais vozes ele atenda?

Gerson disse...

Tche Vaz Vaz, se é prosa ou se verso, não sei, bem sabes que não me atiro para essas bandas, mas que me desculpe o Dr. Freda, com todo o respeito que devo a ele, isso pra mim é um tremendo porre.

Camafunga disse...

É isso mesmo, é um porre.:)

Luiz Carlos Vaz disse...

JJ, Gerson, Mª Cristina, Juca Filho e outros tantos amigos que leem e comentam - ou não, creio que agora o Marcelo não escapa de uma publicação. Não será para ele, será para nós. Mas com calma e tempo. Um livro de crônicas e fotografias... para o ano que vem, por ai...