7 de setembro de 2010

Já podeis, da Pátria filhos



Em raras fotografias de desfile militar do dia 7 de setembro em Bagé, bem no começo da década de 50, podemos ver viaturas do Exército descendo a Avenida Sete. O calçamento da rua estava brilhante por causa da umidade.

Os guarda-chuvas também assinalavam a presença dessa garoa. E com o céu encoberto pelas nuvens, vemos sombras indefinidas.


Além dos caminhões e jeeps, vemos um blindado, conhecido por carro de combate leve (CCL), ou tanque, como se fala popularmente, precedido por duas viaturas anfíbias, uma novidade usada na 2a guerra mundial, conflito que ainda estava muito marcado na lembrança daquela época. Os blindados também foram decisivos nessa guerra.


A clássica presença - agora, saudosa ausência - das torres de inspiração bizantina do Mercado Público, nos indicam bem a época. Nas fotos vemos ainda os prédios característicos do Bazar da Moda e do "Banco Nacional do Commércio". Esta é de um desfile no sentido contrário, com as viaturas subindo a Avenida Sete.

Já podeis, da Pátria Filhos


Hamilton Caio Vaz


A partir do final dos anos 40 e início da década de 50, eu lembro de várias viagens à Bagé. Nós morávamos na Hulha Negra e minha mãe vinha com frequência, comigo e os irmãos menores, para visitar familiares e atender outros assuntos habituais. Na maioria das vezes, vínhamos nos ônibus da empresa do Sr Lauro Reis. O meu hábito costumeiro era viajar de pé, virado para a janela, olhando a paisagem passar.

Em uma dessas vindas, que deve ter sido em 1951, eu ainda não tinha feito sete anos, vim acompanhado pelo meu pai e assisti meu primeiro desfile militar. Lembro bem que ficamos perto de uma das torres, que me pareciam enormes, do Mercado Público.

Aquelas imagens e sons do desfile me impressionaram muito. Para quem estava acostumado com a tranquilidade de um lugar pacato, rodeado de muitos animais e poucos veículos, aquela quantidade enorme de jeeps, caminhões, e dos "tanques" que os adultos falavam muito, chegavam até a assustar. O ruído e o andar desses tanques com aquelas lagartas eram uma visão fantástica. Depois apareceram uns caminhões enormes, fechados, muito estranhos, que anos depois descobri que eram caminhões-oficinas. Mas assisti a tudo firme e acabei gostando. Incrivelmente, a minha visão era essa que mostram as fotografias do post, na mesma quadra, apenas que nós estávamos na esquina do Mercado, do lado da joalharia do Turíbio Martins, que fazia esquina com o primeiro edifício da cidade, o Salim Kalil. Talvez tenha sido esse o desfile que assisti!

E quando poderia imaginar, naquele meu êxtase de menino de sete anos, diante daquelas máquinas grandes e barulhentas, que uns 13 anos depois, eu trocaria de lugar naquela parada? Imaginar que estaria dentro daquelas viaturas fazendo meu primeiro desfile como militar servindo ao Exército, e maravilhando e impressionando outros tantos meninos naquela mesma calçada...

Nesse dia, quando a parada militar descia a Avenida Sete e passei nessa mesma esquina - mesmo agora sem o velho mercado público, de dentro da minha viatura, instintivamente, olhei para aquele lado tentando localizar um menino ao lado do seu pai que ainda poderia estar por ali maravilhado. Talvez ele sorrisse, talvez até me acenasse... mas o menino agora era eu.

Nota: Dedico este texto ao meu Pai, que me levou para assistir este primeiro desfile, e que neste 7 de setembro de 2010 completaria 91 anos.
Enviado pelo colega
Hamilton Caio Vaz
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5 comentários:

José Maria del Rey Morató disse...

Me gustó el artículo sobre fiesta patriótica y el desfile en Bagé. Muy buenas fotos. El señor Hamilton Caio revela que tenía siete años: eso explica la vigencia de su recuerdo.
En Uruguay siempre recordamos el 7 de setiembre, Grito de Ipiranga, fiesta patria de Brasil.
En mi caso, además, el recuerdo más fuerte se lo debo a mi profesor de Liceo: porque explicaba que después que Juan VI se volvió a Lisboa y le preguntaron a D. Pedro que decidía, el profesor gritaba -como D. Pedro habría hecho el 7 de setiembre en Ipiranga- "¡EU FICO!" como si personificara al propio D. Pedro. Inolvidable.

Muchas felicidades a los hermanos brasileños.

Hamilton Caio disse...

Don Del Rey, ficamos muito gratos pelas suas felicitações.
No nosso "Liceo" do Estadual, também tivemos exemplos de professores inesquecíveis, aqueles que marcam pela sabedoria e acima de tudo pela capacidade de transmitir os ensinamentos. Isso sempre nos lembra que a boa educação é a base de uma grande nação.

Manoel Ianzer disse...

Obrigado ao Don José Maria del Rey, pelos cumprimentos, também desejo "muchas felicidades a los hermanos del URUGUAY".
BRASIL AME-O OU AME-O SEMPRE.

Unknown disse...

Excepcional narrativa do Hamilton Caio, conjugada com as fotos, testemunhas de uma época que insiste em ficar para trás.
Talvez por meu nascedouro rural, tenha tanta admiração por cavalos. E então venho a recordar aqui a magnífica apresentação que faziam nos desfiles do 7 de setembro, a CAVALARIA bageense. Meu velho era remanescente do 12º Regimento de Cavalaria, ou simplesmente 12 RC, parece-me que hoje nem existe mais Era lindo de ver uma carga de cavalaria do 12. A cavalhada toda protegida por ferraduras, que faziam aquele som característico ao pisoterem as pedras do calçamento. Saiam faíscas.
Como era bom aquele 7 de setembro.

Loracy disse...

Obrigada pelas lembranças, meu filho! Adorei teu texto! É, agora sei,valeram aquelas tardes em que tinha de te chamar inúmeras vezes para continuares as tarefas escolares. Saías ao menor ruído de um avião que passava. E... demoravas para voltar... Beijo da mãe!