Foto de um Mate na Praça, José Walter Maciel Lopes, Ito Carvalho,
e Claudiran Nunes. Os demais não identifiquei
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Jorge Saes (*)
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Sem muito esforço recordo do ano de 1973, data em que nasceu o Mate na Praça. A relação com José Carlos Teixeira Giorgis tem início quando, aluno do Colégio Estadual Dr. Carlos Kluwe, tive a honra de frequentar suas aulas. O Juca, como gosta de ser reconhecido, lecionava biologia. Nas mãos, uma caixa de giz e um apagador. Na lousa verde, deslizando o branco giz, os esquemas trazidos na memória surgiam. Discorrendo sobre fenótipos e genótipos, demonstrando através do Quadro de Punnett, modelos de cruzamentos e as Leis de Mendel, ficávamos em silente aprendizado. Já o conhecia por sua participação na política, antes mesmo daqueles terríveis momentos de exceção que viveu o povo brasileiro. Aprendi a admirá-lo por sua atuação no mundo jurídico, mas o contestava como presidente do arquirrival inimigo vermelho e branco. Como craque de futebol, ao lado de Bochão e Quininho, possuía drible fácil dentro da grande área para concluir a gol, nunca de bico. Para mim, na época, um ser que deveríamos admirar, à distância. Mais impossível tornava-se uma aproximação quando desfilava em seu flamejante Karmann Ghia verde pelas ruas de nossa Bagé. A vida teima, porém, fazer realizar o que pensamos impossível. Por voltas de 1966, fui trabalhar no Ofício dos Registros Especiais – Títulos e Documentos e Protestos de Títulos, como office boy, para ser, em futuro imediato, um Escrevente Autorizado. Um dia, nesta atividade, fui procurado pelo insigne professor, que também advogava, necessitando realizar uma notificação extrajudicial pelas bandas do Passo das Tropas. Haveria uma dificuldade para a execução do procedimento. Além do difícil acesso, difícil também seria encontrar o destinatário do documento, em seu endereço, no horário normal de funcionamento do cartório. Esclarecendo esta dificuldade, dei conhecimento ao titular do Ofício, nosso saudoso Tito Afonso Fabrício Barbosa, que logo anuiu à realização da visita em excepcionais condições. Dito e feito, marcada data e horário, foi realizado o ato sem danos nem perdas para as partes, sem entraves, como interessa a celeridade das coisas públicas. Estabeleceu-se, daí, um clima de confiança entre serventuário e advogado, também professor. Desde esta data, além do laço profissional, aos poucos, fomos cultivando um clima de sincera e cordial amizade, coisa pouco normal neste mundo de tão marcadas diferenças. Os encontros no pátio do Colégio Estadual, nos intervalos das aulas, ou recreio, foram inevitáveis. Somavam presenças naqueles rápidos momentos, João Maia dos Santos, Antoninho Ferreira, Kiwal Parera, Gesner Carvalho, Boaventura Miele da Rosa, o ex-colega Carlai, um craque de bola, dentre outros alunos e professores. Aos sábados pela manhã, Juca dirigia-se à Livraria Previtali, na Avenida Sete de Setembro, sem dúvidas, para colher os últimos lançamentos de livros que se uniriam à sua biblioteca jurídica ou aos clássicos herdados da origem paterna. Desses encontros, ficaram combinados reencontros para as manhãs de domingo. Objetivo? Tomarmos mate. Nas primeiras saídas, aos domingos, por volta da dez da manhã, Juca, já com seu Chevrolet Opala, cor de chocolate e capota de vinil preto, dirigia-se à Avenida Sete de Setembro, número 180. Com o chimarrão pronto, escolhíamos um lugar ao sol, ou à sombra, conforme a temperatura e as condições climáticas, em algum banco de praça. Juca, como sempre, muito assediado por amigos e populares. Alguns se tornaram seguidores. Passamos a receber visitas por saberem horário e local dos encontros domingueiros e em dias feriados. Eis que, oriundo de Porto Alegre, depois Dom Pedrito, ainda acadêmico de direito, Jorge Chagas associa-se ao grupo. Depois de alguns voejos, ficou resolvido que a Praça da Matriz seria o palco central das conversas aleatórias ao sabor do doce amargo que aquece a vida. Em poucas palavras, assim foi que aconteceu a gestação e o nascimento do primeiro grupo. José Walter Maciel Lopes, ainda acadêmico de direito, agrega-se para se tornar mantenedor e incentivador, um pouco mais tarde. Vem, a seguir, Valdir Alves Ramos, Ito Carvalho, atual coordenador dos trabalhos, Edmundo Castilhos Rodrigues, Claudiran Nunes, Fernando Giorgis. Às vezes, faziam presenças o Dr. George Teixeira Giorgis, Décio Lahorgue, os irmãos Ferraz e tantos outros. Notabilizou-se o Mate na Praça por ser um ponto de encontros e reencontros de amigos e parentes que chegam à Bagé. Recebemos muitas visitas. Por lá estivemos desde o início até l995, aproximadamente, com os aprestos - cuia, bomba, erva-mate e garrafas térmicas. José Walter também possuía sua estrutura. Mantemos guardada a primeira cuia com bocal de prata, testemunha desta narrativa, que, passada de mão em mão, foi transferindo o calor e a energia para solidificar uma instituição, o Mate na Praça.
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(*) O colega do Estadual Jorge Saes achou o Blog e já nos mandou por e-mail um artigo que publicamos.
Bem vindo ao Blog, Jorge.
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9 comentários:
Feliz, amigo, pela oportunidade e de poder escrever as coisas da nossa terra. Jorge Saes.
Mas, Jorge, faltou o "autor" na foto...
Falando no Estadual me deu saudades das aulas de latim do Frei onde a nossa turma mesclava músicas dez minutos antes de terminar o turno e do querido Professor Cereser que nos corria do pátio pra dentro da aula!
Oi, Vaz...
Que belo, reminiscente e mesmo histórico esse texto! Li, com muita atenção e "saboreando" a narrativa - pois fiquei a imaginar o Grupo nessa mateada bageense e fraterna... E, independentemente, de cor política ou religiosa, eu diria: uma ciranda franciscana de Igualdade, Paz e Bem! Além do Juca - que foi meu Professor de Biologia, meu vizinho e que, às vezes, me dava carona em seu fuquinha, à época, o Professor Boaventura, que era das Artes, (desenho e trabalhos manuais). Professor Boaventura, um verdadeiro "gentleman", com sua gravata borboleta, sua elegância, sua voz grave, enfim... Há muito, muito tempo, em uma de minhas idas a Bagé, fui visitá-lo. Ele ficou muito contente e, depois de conversarmos um pouco, me levou a caminhar pelo centro, fizemos um lanche numa lancheria de um amigo seu a quem ele disse: "Este é o João José... um ex-aluno que é professor em Porto Alegre e está me visitando..." Nunca esqueci! Muita Saudade no coração, Vaz... Muita Saudade!
Ao Jorge, meus parabéns, pela saudosa crônica de um distante e sempre vivo cotidiano dominical de nossa Querida Bagé!
Abraço a todos!
JJ!
MARIA LUIZA:
Feliz pelo reencontro. Acompanho-te pela Rádio Guaíba.
Não mencionei, de fato, Édson Heráclito Cerezer, nosso estimado profesor. Quando saí, porém, no último ano, escrevi um texto no Correio do Sul, para homenageá-lo.
Lembrei, também, de Dagoberto Pereira, de Gessi Coitinho, de Edi Vinhas...Abraços. Jorge Saes.
Muito bom esse artigo! Como também é muito bom esse Blog!
A colega Elaine Bastianello manda o seguinte recado:
"... na foto do Mate na Praça, os não identificados são: o de amarelo é o amigo Luciano Vacilotto, ex-presidente da Societa Italiana Anitta Garibaldi, e o de sueter azul, o Jorge Dias, todos engenheiros, como o meu marido".
Valeu Elaine, um abraço!
FICO MUITO EMOCIONADA, QDO VEJO BAGEENSES RELATANDO FATOS ANTIGOS DE BAGÉ.SAÍ DE LÁ A MUITOS ANOS, E QUASE NÃO VOU À BAGÉ.MAS TBM TENHO MUITAS RECORDAÇÕES DAQUELA TERRA, PRINCIPALMENTE DA TURMA QUE DESCIA A 7 DE SETEMBRO JUNTO COMIGO, FAZENDO ALGAZARRA DE ADOLESCENTE.A IEDA E IARA MACHADO,A OLGA MEDINA,A "CHICOTA",MARIA DO CARMO, A CARMEM CECÍLIA,IHHH, MEU DEUS, SÃO TANTAS, QUE ATÉ PEÇO DESCULPAS SE ESQUECI ALGUMA.AINDA MORAM NO MEU CORAÇÃO.RECEBI ESTE E-MAIL DA MARILU COUTINHO, A FILHA DA GESSI COUTINHO QUE FOI,MERECIDAMENTE CITADA POR ALGUÉM.EU ERA FELIZ E NÃO SABIA.À TODOS,ALEGRIAS EM RECORDAR...
Vai lá, Iracema, abre o teu baú de fotografias e manda algumas para o Blog. Um abraço e obrigado por comentar aqui.
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