31 de julho de 2010

"Dibújame un cordero"

Antoine de Saint-Exupéry na cabine de seu avião
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"El 31 de julio de 1944 el avión que pilotaba Antoine de Saint-Exupéry cayó a las aguas del Mediterráneo cerca de las costas de Francia. Sus restos mortales nunca aparecieron. “Pero sé que verdaderamente volvió a su planeta, pues, al nacer el día, no encontré su cuerpo” (El Principito, New York, 1943).

Había nacido en Lyon el 29 de junio de 1900. Su padre era vizconde y ejecutivo de una compañía de seguros. Su madre tenía gran sensibilidad para las cosas de las artes. Cuando sólo tenía cuatro años Antoine perdió a su padre.

Como veinteañero entró al servicio militar y tiempo después se hizo piloto. Desde 1926 voló los aviones de la Aeropostale entre localidades de Francia y el Norte de África.

Su actividad fue decisiva para el establecimiento del servicio aéreo de correspondencia entre América del Sur y Francia. Desde la Patagonia, pasando por Buenos Aires, Montevideo, Pelotas y otras ciudades de Brasil pegaba el salto para seguir hasta los aeródromos de Francia.

En 1931, en Buenos Aires, casó con la salvadoreña Consuelo Suncín (25), que venía de enviudar de dos matrimonios. Es la dama que inspira los comentarios sobre “la rosa”, un enigma interesante que habita entre las páginas de El Principito.

Cuando llega la Segunda Guerra Mundial (1939-1944) Antoine entra en la aviación militar francesa. Durante un vuelo de reconocimiento – en preparación del desembarco de los Aliados en Provenza – su avión desapareció. Se pensó que había caído en el mar Mediterráneo, aunque en aquellos días de finales de la guerra el hecho no pudo ser aclarado.

En 1998, a más de medio siglo de su desaparición, un pescador francés mostró una pulsera que dijo haber encontrado en la orilla del Mediterráneo cerca de Marsella: tenía grabado el nombre Antoine de Saint-Exupéry.


O pescador Jean-Claude Bianco achou a pulseira

Pero la gente no quedó convencida de la autenticidad del hallazgo. Las autoridades francesas, sin embargo, intensificaron la búsqueda en el probable lugar del accidente. Cinco años después del asunto de la pulsera, localizaron y extrajeron del mar los restos de un avión militar que se identificó, sin duda, como el de Saint-Exupéry. Habían pasado más de sesenta años de su desaparición.

Ahora quedaba claro que la aeronave había sido abatida en una acción de guerra y que su piloto murió como un héroe. Seguía sin saberse el nombre del piloto que había derribado el avión francés. Tampoco se encontraron rastros del cuerpo de Saint-Exupéry.

El misterio de la caída del avión se mantuvo hasta marzo de 2008, cuando un piloto militar alemán – que había sido apasionado lector de los libros de Saint-Exupéry – reveló que había sido quien disparó contra el avión francés y lo abatió. El 31 de julio de 1944 no sabía que estaba acabando con la vida del escritor que admiraba. Pero desde que lo supo, guardó esos dolorosos recuerdos hasta que, ya cerca de su muerte, decidió confesar su desgraciada intervención en aquel hecho.

Pero los restos mortales de Antoine de Saint-Exupéry nunca aparecieron.

La leyenda cuenta que ese destino estaba anunciado en los últimos párrafos de “El Principito” publicado un año antes de su muerte."

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José María del Rey Morató (*)


(*) Nosso colaborador, Dr del Rey, já dispensa apresentações...

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30 de julho de 2010

Dois homens, dois aeroportos - II, 60 anos depois


Foto original do avião Lodestar, da SAVAG,
Sociedade Anônima Viação Aérea Gaúcha, prefixo PP SAA,
que caiu em 30 de julho de 1950.
Ele veio desta direção, do leste, 
de São Vicente do Sul/São Pedro do Sul/Santa Maria, 
procedente de Porto Alegre, indo para São Borja.


Passou rasante sobre a casa que havia no lado direito dessas construções,
arrancando a roupa do varal e espantando animais que estavam próximos. 



Continuou rasante nesta área e seguiu em direção à colina. 

Alto da colina, local onde parou a fuselagem do avião, 
depois de "escalar" a encosta por este lado,
batendo em várias árvores em sequência, 



perdendo partes das asas, e se incendiando em uma série de explosões.
Dois homens, dois aeroportos - II, 60 anos depois
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Hamilton Caio
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Sempre preocupado com os detalhes dos fatos, o Hamilton esta semana resolveu ir até o local do acidente que lhe chamou tanto a atenção ainda quando era pequeno. Fato já narrado na postagem "Dois homens, dois aeroportos", o acidente aéreo de 30 de julho de 1950, é agora narrado a partir de relatos, ouvidos pelo Hamilton, das pessoas que presenciaram o fato, como o sr. Primo Cortelini, que mora em São Franscisco de Assis até hoje, e ilustrado com fotografias tomadas no local exato do sinistro. O aeroporto de Bagé posteriormente foi denominado de Aeroporto Comandante Kraemer, e o de Porto Alegre, Aeroporto Salgado Filho.
"Há exatamente 60 anos, um domingo, amanheceu frio e nublado, com chuviscos e nevoeiros, em São Francisco de Assis. O tempo andava se apresentando dessa maneira havia muitos dias em todo o estado do Rio Grande do Sul como é comum nos meses de inverno. Naquele dia 30 de julho de 1950, após o almoço, depois de cumprir as tarefas essenciais diárias na atividade rural, era dia de passear. Primo Cortelini, um jovem de 26 anos, se preparava para visitar a namorada e iria tentar tornar mais séria a relação começada há pouco tempo. Enquanto encilhava o cavalo na frente do galpão da fazenda do seu pai ia pensando, distraído, no palavreado que iria usar. Estava nessa lida quando de repente ouviu um ruído muito forte, como se fosse de avião em baixa altura, se aproximando. O cavalo assustou-se mais do que o jovem Primo e, poucos segundos depois, passou aquele vulto enorme. Era mesmo um avião, em voo rasante, e que provocou a debandada dos animais e levantou a roupa do varal que sua vizinha acabara de estender na casa que ficava na frente à de sua família. Mais alguns segundos, depois do avião ter sumido no nevoeiro, ouviu-se um grande estrondo. Neste momento outras pessoas já corriam até a rua assustadas com todo aquele alvoroço, naquela nublada tarde domingueira, de tranquilidade, na pacata São Francisco de Assis da metade do século passado. Primo amarrou a sua montaria e saiu correndo junto com outros familiares e vizinhos em direção ao local de onde parecia ter vindo o som forte, sendo guiados dentro daquela espessa "cerração", pela sequência de pequenas explosões que vinham do local de onde parecia ter caído aquele misterioso avião, uma colina bem perto dali.  
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Aquele domingo, e os próximo dias, ficaram totalmente ocupados com esse trágico acontecimento. Primo perdeu a namorada, porque não foi visitá-la. Não pode conhecer melhor a moça e nem propor um possível noivado. Para esse início de namoro, foi também um dia fatal. Por isso também esse dia ficou bem marcado para o Primo Cortelini. Avião caindo do céu, namorada rompendo namoro... um inverno para não esquecer jamais... 
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Ontem, véspera dos 60 anos dessa tragédia que marcou a política daqueles anos, fui visitar o Primo Cortelini. Encontrei um tranquilo avô de 86 anos rodeado pela esposa, filhos e netos. Com a mesma lucidez e a memória de outras épocas, ele fala e revive aqueles agitados e dramáticos momentos iniciais e os dias que se seguiram. Recorda os fatos, citando nomes, mostrando locais e detalhes. 
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Ele conta que, após o voo rasante na sua casa e nas dos vizinhos, eles verificaram pelas marcas deixadas, que o avião foi batendo em várias árvores, e seguiu dessa maneira, subindo e "lavrando" a colina, até parar bem no alto, já completamente em chamas.
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A dificuldade de chegar até o local foi muito grande. Eles tiveram que subir a colina pelo meio da vegetação e aguardar que cedessem as chamas e o calor intenso para resgatar os corpos. Só tarde da noite, através do telefone de uma fazenda distante alguns quilômetros, conseguiram se comunicar com as autoridades e relatar o acidente. Até então, o avião era dado como desaparecido, pois não havia chegado ao destino. 
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O estado perdeu o senador Joaquim Pedro Salgado Filho, candidato ao governo do estado nas eleições daquele ano, vários políticos da época, e o piloto, o Comandante Gustavo Kraemer. Os gaúchos, em particular, ficaram profundamente abatidos naqueles dias que se seguiram. 
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Primo Cortelini lembra de tudo isso. Só fala um pouco baixo quando se refere a tal namorada perdida para não despertar um possível ciúme tardio da esposa, com quem se casou depois, e que o acompanha há décadas. Um certo riso, esboçado por Primo, revela que não se arrependeu do namoro desfeito pelo avião que caiu ali, há poucas braças da casa de seu pai. 
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Coisas do destino... coisas do destino."
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Enviado pelo colega Hamilton Caio,
diretamente de São Fancisco de Assis,
especial para o Blog da Velha Guarda do Estadual
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29 de julho de 2010

Um logotipo para os Duzentos anos


Prefeitura de Bagé lança concurso da marca dos 200 Anos da cidade

Dentro das ações promovidas para os preparativos da cidade rumo ao ano em que completa seus 200 anos, A prefeitura de Bagé lança o edital do concurso que vai escolher a logomarca do bicentenário. O autor da logomarca vencedora receberá 3 mil reais de premiação. Qualquer pessoa pode participar do certame cujo regulamento está disponível no site oficial das comemorações www.bage200anos.com.br
De acordo com o coordenador da comissão executiva dos 200 anos, Pablo Lisboa, o concurso está aberto a todos os interessados, tanto para profissionais e estudantes de publicidade e propaganda, como para designers, artistas gráficos e pessoas ligadas a áreas afins. Os concorrentes deverão enviar o trabalho para o email comunicacao@bage.rs.gov.br colocando no assunto da mensagem: “Concurso Marca – Bagé 200 anos”. O prazo para envio dos trabalhos é de 01 a 31 de agosto de 2010. “Depois de encerrado esse prazo serão escolhidos pela comissão julgadora cinco trabalhos que ficarão disponíveis de 10 a 20 de setembro no site dos 200 anos e na casa de Cultura Pedro Wayne em Bagé para que a população vote”, explica Lisboa. O prefeito Dudu Colombo destaca a oportunidade de participação da comunidade e que este concurso pretende, principalmente, dar espaço para que as pessoas participem desde já das comemorações. “Será mais um espaço democrático de participação e sugestões, tanto para aqueles que quiserem se inscrever e efetivamente enviar ideias de logomarcas, como para aquelas pessoas que participarem da votação. Todos poderão fazer parte da escolha da marca dos 200 Anos, numa ação que comemora aquilo que é de todos nós: o bicentenário da nossa cidade”, disse. No site a votação será online e na Casa de Cultura haverá uma urna com cédulas. O trabalho mais votado na internet soma 10% e o da Casa de Cultura outros 10% totalizando 20% do voto popular. Os outros 80% da nota da logomarca serão definidos por banca de avaliação da comissão 200 anos de Bagé. O regulamento do concurso está no site
www.bage200anos.com.br
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28 de julho de 2010

Dois capacetes, dois amigos, 42 anos...

Um DKW Belcar fazia parte do "apoio" da nossa equipe

Os anos sessenta foram pródigos em gincanas. Ginkana (a nossa era assim mesmo, grafada com k) é uma competição entre equipes ou grupos, que devem resolver problemas e enigmas em espaços de tempo limitados. Além de enigmas e problemas, outras tarefas como localizar e trazer até a “base”, objetos raros, coisas meio únicas, difíceis de encontrar. Dependendo da dificuldade de cumprir a tarefa, a pontuação varia. Quando essa atividade é apoiada ou promovida por uma emissora de rádio, o prato está pronto, servido e quente! Foi assim no dia 28 de julho de 1968. A Rádio Cultura de Bagé, durante todo dia, transmitiu ao vivo as tarefas para uma grande gincana que aconteceu na cidade. A movimentação durou o dia todo com a transmissão ao vivo das tarefas a serem cumpridas. Várias equipes, que adotavam nomes “criativos” para a época, como Equipe Nico, Equipe Nós, Uma Brasa, Mora?... movimentaram a cidade e famílias inteiras na tarefa de ajudar a resolver os “enigmas” e a encontrar os tais objetos raros. Lembro que uma tarefa era “levar na próxima meia hora um capacete alemão usado na 2ª guerra...” e lá foram as equipes a cata dos velhos ex-combatentes da FEB que moravam em Bagé para pedir emprestado as tais relíquias. Ao final, ninguém resistiu a uma foto para a posteridade com os tais capacetes... Não lembro o nome da equipe em que participei, mas lembro bem, sim, que eu e o Salvadoretti fizemos parte dela juntos. Claro, ao final, colocamos também os capacetes e batemos a foto, e isso já faz 42 anos. Exatamente 42 anos! Foi no dia 28 de julho de 1968, e para mim é como se fosse hoje, até porque, segundo Zuenir Ventura, esse foi o ano que não acabou...

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26 de julho de 2010

Vinte e quatro futuros numa só fotografia

Várias fotos foram batidas neste mesmo dia e lugar
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Num dia de primavera do ano de 1969, a turma 201, turno da manhã, chamou a professora Maria de Lourdes Alcalde para uma fotografia. Eram 24 jovens. Seis gurias e 18 guris, que ficaram imortalizados naquele leve clic, naquele instante mágico, onde uns apareceram sorrindo, outros sérios, um outro colocando "guampinhas", mas, acima de tudo, unidos pelo espírto de cumplicidade que reinava entre nós, guris e gurias da 201 de 1969. Faltava pouco, só mais um ano, e estaríamos fora. Porto Alegre, Santa Maria, Pelotas, Rio Grande.... ou mesmo a FUnBa, lá em Bagé mesmo, seria a nossa futura casa. Já sabíamos que não seria como o Estadual. Seriam outras caras, outras cidades, outros professores. Do Estadual só restaria a saudade dos momentos - nem maus ou bons, apenas momentos vividos no colégio do nosso coração. Vendo hoje esta foto, lembro do Roberval - que foi embora tão cedo, do Ovídio Ávila - que nem avisou, do Henrique Oswaldo - que não viu o filho jornalista cobrir a copa da África do Sul, da professora Maria de Lourdes... e de outros, que já não lembro o nome, e que agora estão apenas nesta fotografia...
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Fotografia enviada pelo colega
José Luiz Salvadoretti
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25 de julho de 2010

O baú do Cientista

Formatura de Ginásio com a turma à rigor! Gurias de coque e guris de terno.
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Pois o Blog da Velha Guarda continua fazendo seus milagres... Agora foi a vez do meu grande amigo José Luiz Salvadoretti nos achar. Por morar em cidades diferentes acabamos perdendo um pouco o contato até mesmo depois da época em que o e-mail já estava ficando, digamos assim, uma coisa mais comum. Achado o Blog, ele logo deu de mão nas suas fotos do Estadual e mandou esta bela recordação da nossa formatura de Ginásio, de 1967. Nela aparecem, bem a esquerda, o Paulo Antonio Barros de Oliveira e ao fundo, como o mais alto da turma, o Galdino Hernandes. Eu estou de "açucareiro" com a Elizabeth e a Adalgisa. Depois aparecem o Dalmir Mendes dos Santos e o Salvadoretti, que apelidamos, desde a primeira série ginasial, de Cientista. Me ajudem com o nome do resto da turma. Uma outra foto com boa parte desse grupo está na postagem Lagarteando, hein?, publicada em 7 de maio de 2010. O Salvadoretti que também tinha sua própria máquina fotográfica, uma Svema 8, de fabricação russa, comprada na Galeria Sete, deve ter um baú bem cheio! Vamos lá, Cientista, manda tudo para cá!!! A Velha Guarda está esperando.
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Retratos antigos, proposta moderna

Bagé possui um acervo de fotografias antigas muito grande.
Esta pertence ao Arquivo Público Municipal de Bagé

Crônica escrita pela Mercinha, a propósito da inauguraçao da mostra promovida pelo NPHTT, "Dois Séculos do Cotidiano em Bagé - Imagem, Poesia e Historia", dia 13 de julho, na Casa de Cultura Pedro Wayne.

"É bem de Bagé.

Essa falsa paradia, que, de repente, se rompe, para que surja uma fogueira de sensibilidade inesperada e que vinha, há muito, em lenta e cuidadosa construção coletiva. Aqui o silêncio é sempre construtor embora não tenha prazos.

A gente se belisca e pensa: será verdade? Estamos em Bagé, nessa cidadezinha charmosa de beiral de continente, com ar castelhano, contida e minada de história, com nome de Rainha ou no centro cultural de Montevidéo ou Porto Alegre? Foi o que todos, temos certeza, perguntaram nessa gélida noite de 13 de julho diante da mostra de Retratos Antigos, na Casa de Cultura. Uma mostra de ficar em nossos melhores registros, como ficaram tantas outras nessa Casa. Retratos Antigos inova a proposta de edições a que se propõe o Núcleo de Pesquisas Históricas Tarcísio Taborda.

Pega a linguagem instigante e contemporânea da fotografia, repropõe a história de época em suportes novos (esses banners que nem pedaços móveis de paredes) e dá de comer à alma, a beleza e a história. Tudo é delicado nessa Mostra. Tudo é intocável porque pertence à dimensão irreversível do passado. Mas tudo é referência e ponto de partida... E os olhares dos visitantes poderão ser contemplativos ou críticos, poderão recriar ou celebrar, conforme entrarem em comunhão, ou não, com aquela alma que está ali pulsando atrás de cada fato...

Então a história começa a se mover e a ser tecida pela trama das mil contemplações sempre chegando. Os textos, ao lado das fotos, fotografam a emoção da alma debruçados sobre a imagem. Ardidos, líricos, amorosos, questionadores e críticos. Heloisa Beckman, como coordenadora do Núcleo, e Maria Luisa Pegas, como sua assessora técnica, brilharam. Carmem Barros como sempre assinalou presença na mais sensível justificativa. A leitura dramática nas vozes de Marilu e Sapiran, reconhecida força poética, fizeram com que cada foto deslizasse dentro de nós e se incorporasse a um recanto da alma, e os tempos fossem se ligando e já nem soubéssemos se pertencíamos ao século 21 ou aos inícios do século passado, ao final do momento. Havia o clima denso e envolvente das grandes nostalgias e a instigante curiosidade do não vivido.

As fotos eram iluminadas, uma a uma, conforme a leitura dos textos, e uma procissão de olhares ia acompanhando a caminhada poética. Momento estético e afetivo de dignificar a história de Bagé. Lá estavam, nas fotos, as mulheres e os homens de Bagé em grupos ou bandos comemorativos ou não, solenizados ou não, as famílias, as mães com seus filhos ou sozinhas, as figuras que inovaram, também os revolucionários e os pobres, esses ausentes e presentes dentro da vida e da arte. A história de um tempo, as relações de poder na moda, na postura e composição da cena, os afetos, o tempo da repressão e da gentileza, do disfarce, o tempo da alegria e da guerra, as contradições e as consagrações (Para mim foi demais sensibilizador, ver ali minha mãe com 18 anos, uma das primeiras mulheres a dirigir carro nesta cidade).

A mostra passa a ser uma encantadora fonte de pesquisa histórica, um forte subsídio e uma provocação dentro dessa ótica contemporânea em que a imagem comanda a cena do mundo. Afinal há muito que explorar e muito que perguntar a partir dela: o que perdemos ou ganhamos nesses 200 anos? No que evoluímos e no que regredimos, nós resistentes seres fronteiriços? Pois é. Não esqueceremos o momento de sua inauguração. Um luxo para alma e uma experiência de calor espiritual e beleza se contrapondo, de forma absoluta, à névoa lá fora, na rua 7...


Quase que, na saída da Casa de Cultura, buscamos, com o olhar, a torre do antigo Mercado para segurar e estender a memória e o seu passo."
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Elvira Nascimento
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Enviada pela colega
Heloisa Beckman.
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24 de julho de 2010

O Trapézio de Bagé

O Forte de Santa Tecla faz parte da história de Bagé

No próximo dia 27, terça feira, às 17h30, na Casa de Cultura Pedro Wayne, numa promoção do Núcleo de Pesquisas Históricas Tarcísio Taborda, Armando Luís Brasil apresentará seu trabalho de pesquisa sobre os limites no sul do Brasil no período colonial e Imperial e a formação de nosso município, intitulado O Trapézio de Bagé. As obras consultadas pelo autor desse trabalho foram "Fronteira Iluminada", de Fernando Cacciatore de Garcia, "A Saga no Prata", de Juvêncio Saldanha Lemos, e " Memórias", de Ladislau dos Santos Titára. A programação faz parte dos eventos que comemoram os 199 anos de Bagé e visam, além do enriquecimento cultural, um maior conhecimento histórico a respeito da formação geográfica, dos limites e tratados que envolveram a consolidação das fronteiras de nossa cidade, no momento em que nos preparamos para comemorar os 200 anos da fundação de Bagé. A entrada, como sempre, é franca e todos são convidados.

Enviado pela colega

Heloisa Beckman

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22 de julho de 2010

O Caderno Avante - II, Uma dedicatória

O escritor Ignácio de Loyola Brandão gosta de escrever
seus textos em cadernos antigos como o Avante

O Blog ARdoTEmpo, que é sediado em Portugal, publicou hoje nosso texto intitulado "O caderno Avante" e dedicou-o ao escritor Ignácio de Loyola Brandão. Isso nos causa grande satisfação. Nosso trabalho, que é dedicado à memória do Estadual e à de nossa cidade, pode agora ser apreciado diretamente em outro país. Leiam a postagem completa no endereço:
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http://ardotempo.blogs.sapo.pt/478459.html

"Ignácio de Loyola Brandão - Homenagem ao grande escritor que gosta de colecionar os velhos cadernos sem uso e neles escrever a caneta, a tinta e a lápis, os seus espantosos e surpreendentes contos e romances contemporâneos, além de neles colocar suas copiosas e detalhadas pesquisas e colagens de documentos para escritos futuros."

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21 de julho de 2010

Manoel Ianzer na Bienal 2010

Convite da Associação Gaúcha de Escritores
para os lançamentos do Ianzer na Bienal 2010

A AGES envia convite para os lançamentos do colega Manoel Ianzer:
Sem Ponto e No Silêncio de Nossas Iras, na Bienal de São Paulo 2010.
Local: Pavilhão de Exposições do Anhembi
Livraria: Scortecci, avenida 1 com a rua M.
Dia: 21.08.10 (sábado)
Horário: das 13h30min às 16h
Cumprimentos ao Ianzer por mais estes livros. Podemos dizer sem dúvidas: Esse estudou no Estadual!
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20 de julho de 2010

Olha o passarinho! - III, Whisky, Gisele...


Casal da região de Porongos, Pinheiro Machado,
na praça Silveira Martins em Bagé, ano 1943.
Foto feita com a técnica “lambe-lambe”.
Acervo particular do autor.
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"Quem ainda não ouviu, mesmo de brincadeira, a expressão “Olha o passarinho!...” dita por alguém que está prestes a pressionar o botão do disparador de uma máquina fotográfica?

Modernamente, influenciados principalmente pelas novidades trazidas até nós pelo cinema, poderemos, ao invés de fixar o olhar no passarinho imaginário, sermos convidados a dizer xisss, (do inglês: cheese) ou até mesmo whisky, a expressão platense imortalizada no filme de mesmo nome dos diretores uruguaios Juan Pablo Rebella e Pablo Stoll.

Mas, como é difícil ficar à vontade diante de uma câmera! Só a Gisele consegue, nós não. Nós, os seres não-Giseles, mostraremos uma cara surpreendida, um sorriso amarelo, fazendo uma pose estudada – ou até mesmo constrangida, para uma lembrança visual que ficará imortalizada pela ação do click fotográfico.

Eu lembro quando era comum, num passado bem próximo, a figura do fotógrafo lambe-lambe nas praças das cidades. Eu lembro que era comum pessoas se dirigirem a esses estúdios em plena rua para “tirarem as fotos” do dia do aniversário, com o novo corte do cabelo, acompanhados do parente distante que visitava naquele dia... e terem solicitada a atenção momentânea pelo fotógrafo: Atenção... olha o passarinho! Dizia ele. O mágico momento quando era preciso fixar os olhos num ponto inexistente, não poder piscar, não poder pensar em nada, ter que prender a respiração como no momento de fazer um raio-x.

Tentar ficar com a naturalidade da Gisele. Depois esperar o esclarecimento da dúvida: piscamos os olhos? Sorrimos? Olhamos para o lado? Ah! E se trememos um pouco?... momentos depois tudo se esclarecia. A magia acontecida no interior da caixa escura logo se desvendava na bacia com água enquanto o homem que saíra debaixo do pano preto lavava, sorrindo, a fotografia recém fixada... a foto-rápida, a que não servia para documentos mas que guardava o momento mágico em que olhamos fixamente para um passarinho inexistente, quando dissemos queijo ou uísque, quando teremos gravado numa fotografia a memória daquela hora, o registro para o futuro da ocasião única.

Tudo porque fixamos o olhar num ponto ficcional, prendemos a respiração, ficamos imóveis. São essas imagens que vão contar nossa vida, são elas que dirão quem fomos, se fizemos um corte novo de cabelo, cumprimos aniversário ou recebemos a visita do padrinho. Mesmo agora quando já se foram todos os lambe-lambes, quando as máquinas eletrônicas soam um falso click chiado para dizer que o instante mítico já passou, que já não precisamos esperar a lavagem na bacia e que, se saímos de olhos fechados, podemos clicar outra vez, e mais outra, e outra, até ficarmos com a naturalidade, ou nem tanto, da Gisele. Basta ficarmos de olhos abertos, sem tremer, olhando simplesmente para o passarinho. São muitas imagens, são muitos momentos. Muitos até bem banais, sem uma maior importância, com o cabelo de sempre, com o parente que mora na esquina, num dia qualquer do ano.

São milhares de clicks! E pronto. Gisele já pode se mexer, já pode andar novamente, já pode voltar a pensar, já pode respirar. O homem que saiu debaixo do pano virtual já lavou a fotografia na bacia do photoshop, o sorriso de Gisele já aparecerá na hora, ela estará linda, ela não terá fechado os olhos, ela estará olhando para frente e não terá tremido de emoção. E ela nem disse queijo ou uísque. Aliás, ela nem precisou olhar o passarinho..."
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Luiz Carlos Vaz


Artigo publicado no jornal Amanhã, de Jaguarão, em 2008. Como hoje a Gisele Bündchen está fazendo 30 anos, lembrei de publicá-lo aqui, dentro da série "Olha o passarinho!"
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Anotações na memória do Olmiro

O velho Estadual, em tela de Jussara Casarin, enviada pela Janice
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O colega Olmiro Velasque Müller resolveu "passar à limpo" suas recordações do tempo em que estudou no Estadual. Ele prova que está bem de memória, pois até o nome do concessionário do bar ele lembra... (Esse nome eu já havia esquecido há horas). Mas vamos a lista do Olmiro. Confiram ai:

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"Corpo Docente e Funcionários do Colégio Estadual de Bagé, no peíodo em que estudei lá, (1960/1965), conforme minha memória:

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PORTUGUÊS: Peri Coronel, Maria Veleda, Frei Plácido, Frederico Petrucci, Jorge Tei-xeira Giorgis, Maurílio Carlini.

MATEMÁTICA: Reny Collares, Eva Da Nova, Clotilde Maria Magalhães, Maria Amélia Coronel, Leopoldo Mayeron, Sílvia Petrucci, Dagoberto (?).

LATIM: Frei Plácido, Maria Veleda, Leopoldo Mayeron.

INGLÊS: Dea Dini, Eloína Lopes, Ilca Amaral.

FRANCÊS: Otto Carvalho Filho, Louise Collares (madame), Maria Zélia Coronel.

GEOGRAFIA: Eduardo Contreras Rodrigues, Frederico Petrucci, Brunhilde (?).

HISTÓRIA: Clementino Araújo, Terezinha Severo, Elida Costa, Célia (?), Edson Cerezer.

DESENHO: Rachel Beckman, Boaventura Mieli da Rosa, Suzana Silva.

MÚSICA: Zélia (?).

EDUCAÇÃO FÍSICA: Bugre Lucena, Wagner Previtalli (Naguinho), Zaíde (?), Lígia Mouchet.

QUÍMICA: José Albino Avancini, Ademar Machado, Antônio Ferreira.

FÍSICA: Waldemar Amoreti Machado, Sarita (?), Jurandir (?).

CIÊNCIAS: Ilka Pegas.

BIOLOGIA: José Carlos Teixeira Giorgis (Juca).

Inspetores: Wilson Lucarelli (Capincho), José Olaves (Olavo), Catalino Brasil Machado, Jodoci (?).

Secretária: Emy Ferreira Silveira.

Porteiro: “Seu” Ivo.

Concessionário do bar: Abilio.

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Estes são os mestres daquela época dos quais consegui lembrar-me. Esqueci os nomes de poucos: - Da professora de música que era irmã da prof. Zélia; - Da professora de canto orfeônico; - Da professora de desenho, que era esposa do prof. Boaventura; - Da professora de biologia, que morava na av. General Osório próximo à rua Dr. Pena. Em 1964, quando eu estava no 1º científico, esta professora substituiu o prof. Juca, que tinha sido impedido pelo regime militar (no fim de 1964, ele foi inocentado e retornou). . Os diretores daquele período foram Frederico Petrucci e José Albino Avancini. . O prof. Petrucci, que tinha ativa militância política, foi eleito vice-prefeito em 1963, mas teve seu mandato e direitos políticos cassados em 1964, além de ter sido expurgado do serviço público. Não sei se ele chegou a ser beneficiado pela anistia. E por aí vão as lembranças daqueles tempos."
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Abraços,
Olmiro Velasque Müller
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19 de julho de 2010

Um país chamado Saramago


Viaje por Saramago

José Saramago escribía libros y abría puertas por las que transitamos hacia una cultura, otros escritores, un modo de entender la vida, un país.
Supimos un día que Portugal tiene el tamaño adecuado para que una mujer, Blimunda, lo recorra a pie buscando a su hombre, al que acabará encontrando minutos antes de que la Santa Inquisición lo queme vivo por el nefando crimen de haber ayudado a juntar voluntades humanas y así volar en una pasarola que recorrió los cielos de Lisboa, Mafra, la sierra de Montejunto y los mares de Ericeira en un viaje único porque un fraile culto, un hombre manco y una mujer con poderes juntaron pensamiento y arrojo, valores humanos a los que no renunciaron pese a la amenaza de pagar por ello un precio tan alto como alta es la propia vida, la de cada uno, la de todos. La trinidad laica que formaban Blimunda, Baltasar y Bartolomeu entre sueños y estrecheces oyó tocar a Scarlatti porque la música es aérea y él cómplice en la elevación de los seres humanos, mientras, más allá de los acordes, trabajadores reclutados a la fuerza por el ejército de Don João V construían un convento palacio para conmemorar el nacimiento de Maria Bárbara, y por el que hoy pasean los turistas con Memorial del convento bajo el brazo. Y por llevar el libro entienden mejor la arquitectura y la naturaleza humana. Íntimamente mejor.
En la raya con Extremadura está el Alentejo.
Dice Saramago, por haber mirado tal vez desde la moderna altura de un avión, o desde su estatura, quién sabe, que lo que más hay en la tierra es paisaje, a no ser, añade, la abundancia de penas y tantos sueños sin cumplir de gente que él ha conocido bien, los campesinos sin tierra del Alentejo que cruzaron su tiempo esperando el día levantado y principal en el que pudieran decir, por fin, aquí estamos, somos y merecemos lo que la historia nos viene negando. Ese día en que los vivos y los muertos se juntarían en un desfile alegre, al que no faltaría el perro Constante, ni los Maltiempo que se sucedieron en una dinastía siempre pobre, de trabajar de sol a sol, de mudarse de un lugar a otro, estos olivos, estos campos sin sembrar, esta lluvia, el ajuar sobre un burro, el colchón, la olla, poco más tenemos que estos hijos, van al desfile Juan y su mujer Faustina, que juntos comieron pan y chorizo una noche de invierno, y Sara de la Concepción y Domingo Maltiempo, todavía con la soga al cuello, la soga con la que se ahorcó por culpa del vino y del mal vivir, o Tomás Espada con Flor Martinha, tanto tiempo esperándote, decía ella, o la hormiga mayor, que vio en Monte Lavre cómo torturaban a Germano Vidigal mientras ella arrastraba provisiones con las que pretendía llegar hasta el día del desfile, un tiempo en que ninguna policía política mataría a golpes a un hombre, relato verdadero que Saramago reconstruye en Levantado del suelo y que no pudo volver a leer nunca porque no era capaz de aguantar tanta brutalidad. Para distanciarse eligió, a la hora de narrar, el punto de vista de la hormiga, sin saber, o intuyéndolo, que hasta las hormigas, con sus minúsculos cerebros, expresarían alarma, quiénes son estos, de qué vientre han nacido para creerse dueños de otros que también han nacido de vientres, tan iguales todos al nacer, con el mismo futuro, de no mediar las hambrunas y otras maldades que confunden a la genética y ofenden a la ética.
Los paisajes mueren porque los matan, no porque se suiciden. El río Almonda, que pasa por Azinhaga, vio nadar cuerpos jóvenes y en sus aguas se lavaron miles de sábanas que luego, al caer la noche, olían a juncos, que era el olor a limpio de la ropa de los pobres. Ahora nadie podría bañarse en esas aguas, el filósofo tendría que callarse, ni una vez siquiera se podría gozar de la amable tibieza de un río del que se conocen todos los recodos y entrar en él es como entrar en un cuerpo bienamado. Cortaron los olivos, contaminaron el paisaje, se quedó la gente que a sí misma se sucede, los azules de las fachadas, las calles que ya no son de tierra, el recuerdo de unos abuelos altos, que cuidaban cerdos, las estrellas, que dicen que son las mismas, o tal vez sean el reflejo de lo que ya no está. Azinhaga, Ribatejo, caballos a lo lejos, en casa una cama pintada, un fogón, unas sillas, una mesa, un Portugal íntimo y precioso, descrito en Las pequeñas memorias, un país de recuerdos que nos une a todos en las mismas emociones y los mismos desconsuelos. Así éramos, no sabemos lo que hemos ganado ni lo que hemos perdido, no está inventada la máquina de medir la dimensión de la humanidad que transportamos.
El viaje no acaba nunca.
Decían que en Orce, Granada, encontraron al hombre más antiguo de la Península. Saramago le dio nombre, le puso Pedro Orce y se fue a ver los caminos de esa región meses antes de hacerla suya para siempre. Entró en cuevas que son casas, conversó con pastores que son nuestros contemporáneos aunque reproduzcan modos de vida que se pierden en el tiempo, tan duros y tan antiguos, juntó en un dos caballos a cinco andantes, tres hombres, dos mujeres, sujetos libres que vivieron proezas antes nunca imaginadas, y más tarde Saramago escribió que no existe ninguna novela que no tenga palabras de más, aunque a otras le falten páginas, de modo que escribió un capítulo nuevo para La balsa de piedra, otro viaje dentro del viaje para ver cómo nacen los ríos, y acabar diciendo, ante las aguas claras y ágiles del Castril, que mirándolas "el tiempo tiene otro sentido, como un instante de eternidad en la atroz brevedad de la duración humana. La nuestra".
Dice Saramago que a Portugal se entra por Camões. También por Eça de Queiroz, por Teixeira de Pascoaes, por Camilo Castelo Branco, por Sophia de Mello Breyner, por los poetas, luminosa constelación, por Fernando Pessoa, siempre por Fernando Pessoa en su estupenda complejidad. Hace años escribió José Donoso que si Lisboa desapareciera pero quedara un ejemplar de El año de la muerte de Ricardo Reis, el espíritu de la ciudad estaría salvado. La ciudad que se mira a sí misma, desconfiada, arañada de caminos que se cruzan, para ir, tal vez para volver, raíles de tranvías, calles tortuosas, la sombra de un deseo, el silencio pesado, la monotonía de los coches, un olor doméstico del jabón de almendra, la mujer que camina segura, la que mira a lo lejos enredada en convenciones mientras su mano inerte le dicta la vida y tal vez la soledad. Y un beso prolongado, tanto y tanto, un encuentro de dos hombres, el que no existe porque murió, el que no puede existir porque era invención. Fernando Pessoa, Ricardo Reis, la sabiduría de contentarse con contemplar el mundo desmentida en más de 400 páginas, la sabiduría de expresar la tristeza humana contada en más de 400 páginas. "Aquí, donde el mar acaba y la tierra empieza". "Aquí, donde el mar ha acabado y la tierra espera".
Salió Saramago de su país para entrar con ojos nuevos. Lo recorrió de Norte a Sur y de Este a Oeste. Utilizó carreteras secundarias, caminos vecinales y todos los desvíos que le llevaran al interior de las cosas. Eligió describir piedras en vez de paisajes, aldeas en vez de palacios, un cuadro de una esquina frente al gran retablo mil veces reproducido por su innegable belleza. Pero se quedó con la Pietá de Belmonte y con el palio de Cidadelhe, tan amorosamente custodiado, de Sintra, del palacio de la Pena dio señal, pero se detuvo describiendo cierta forma de amasar el pan y dar de comer, tan necesaria para la justicia del mundo. Viaje a Portugal no es una guía, es un testamento, una manera de mirar y ver. De descubrir la huella de la mano que levantó el monumento, la respiración de las piedras, el latido extremo de una civilización que se acaba y nadie puede decir si para bien.
Unos meses antes de morir Saramago recorrió Portugal, una vez más su país, Constância, Camões, el Tajo, Castelo Novo, el Río Coa, los olivos, las vides, Figueira de Castelo Rodrigo, la historia. Saramago murió con los ojos llenos de un país que no es grande, pero a él le dio vida y a cambio él le fue ofreciendo los libros que escribía. Portugal era el mundo desde el que José Saramago se hacía todas las preguntas y trataba de encontrar alguna respuesta.
Viajó, decía, por Portugal, siguiendo la ruta de un elefante que tuvo que llegar hasta Viena por una absurda decisión real. Y Saramago, como el elefante Salomón, partió desde Belén país adentro, con la emoción de quien sabe algo de la condición humana y permanece dispuesto a la sorpresa. En Castelo Novo leyó en voz alta unas líneas escritas 30 años antes: "Castelo Novo es uno de los más conmovedores recuerdos del viajero. Tal vez vuelva, tal vez no vuelva nunca, tal vez evite volver, solo porque hay experiencias que no se repiten". Volvió y quizá aún esté allí: al fin y al cabo, como dice el epílogo de El viaje del elefante, "siempre acabamos llegando a donde nos esperan". A Portugal, sin duda, y desde Portugal, a todos sus lectores.
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Pilar del Rio
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Destacado de ARdoTEmpo - Publicado em El País
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A menina, a carruagem e a praça

Antiga carruagem em Bagé, em foto enviada pela Dóris Schuch

A menina, olhava sem entender o papel nas mãos do pai. 
Segundo ele, era agora brasileira e nascida em Alegrete.

Como um simples papel poderia tirar seu poder? 
Havia custado tanto aprender a palavra opção! 
Teria o direito de optar por sua cidadania aos dezoito anos. 
Seu pai dissera! Ela, que se julgava de ‘Santana’,
ouvira em conversa de adultos, que nascera em Montevidéu,
e poderia - apitar? - por seu país quando fosse maior. 
Sentia-se poderosa. 
Com o destino nas mãos. 
E agora?
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— Filha vivemos o pós-guerra. Fui transferido para Fernando de Noronha. Não há tempo. A certidão nas mãos do pai gritava: brasileira e alegretense. Seu poder desceu ao calcanhar. Levou junto a auto-estima. Chorou, berrou, sapateou, bateu com a cabeça na parede. Entre soluços: pai, tu disseste que eu escolheria! Mentiste para mim! Fato consumado. Não poderia mais optar. O pós-guerra escolheu. Apitaram por ela.
Em Vila de Coimbra (Mato Grosso), inaugurava oito anos quando ouviu de seu pai: há vaga em Florianópolis e Bagé. Escolhi Bagé, no Rio Grande do Sul.

— Gaúcho é bairrista! Deixar uma capital por aquela cidadezinha. Servi lá. Seu nome lembra um índio: Ibagé. Seria agradável se não fossem as moscas. Bagé é a cidade da mosca! Pontificou o colega baixinho, atarracado. Por que seu pai ia para lugares tão fora do comum? Coimbra em pleno Chaco tinha nuvens de mosquitos. Bagé teria nuvens de moscas? Sonhou que era levada por um batalhão delas. Acordou chorando.

Em tarde de fevereiro a menina chega a Bagé pelo Trem da Fronteira. Esperando um enxame de moscas desce apreensiva do vagão. Encontra gare espaçosa, movimentada e limpa. Atravessa correndo o saguão. Pára perplexa — invadida por luminosidade azul brilhante. Em frente à Estação, a praça. Uma praça grande e simpática, cujos plátanos gigantes parecem filtrar toda luz do mundo no ofertório do pôr-do-sol: malvas, lacres, lilases, púrpuras e laranjas se entrelaçam e beijam. Bebe beleza pelos olhos arregalados. Fica extasiada. A um sinal do pai, move-se, do outro lado, carro puxado a cavalos. Diligência? Carruagem! Tirada por seis cavalos brancos ajaezados de ouro e penachos vermelhos. Ela, princesa com tiara de brilhantes nos loiros cabelos cacheados, prepara-se para entrar. O pai intervém: vai a bagagem. Iremos a pé, é só atravessar. Quase em lágrimas, retruca: Vou de carruagem! O cocheiro que poderia ser psicólogo, não fosse avô: deixe-me levar a princesinha, enquanto os senhores e o menino desfrutam a frescura da praça. Galantemente oferece-lhe a mão. Acomoda-se nos macios coxins. Lenta e majestosamente contornam o largo.

— Sua Alteza gosta da nossa Rainha?

— Que Rainha?


— Bagé! Por sua beleza nossa cidade é chamada Rainha da Fronteira. Fecha os olhos. Vê-se princesa índia. Filha da Rainha da Fronteira com o Índio Ibagé. Decide: esta é a minha cidade. Quem se julgava nômade e sem Pátria, escolhe seu chão. Cria raízes instantâneas. Ao pararem, o cocheiro posta-se em ajuda a infante da corte. Salta princesa índia de lança em punho, com longo cocar azul a beijar-lhe os pés, gritando a plenos pulmões: sou de Bagé. Esta é a minha cidade! Antes que os atônitos adultos possam esboçar reação, pula em pêlo num cavalo tão negro quanto sua cabeleira e saiem disparada. Cavalga pela praça entoando canto de vitória — Iá, Iaaáá. Sou de Bagé. Iá, Iá, Iá . Sou de Bagé. Iá, Iaaáá! Crava, com único golpe, firmemente sua lança ao solo. Cai de joelhos. Abarca grande porção de areia que joga para o alto. Nesse batismo — primitivo, selvagem e solene — readquire seu poder.
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Sarita Barros
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Crônica para os 199 anos de Bagé
publicada no jornal eletrônico Rio Total,
e enviada ao Blog pelo colega Jerônmo
- o irmão da professora Sarita.

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