2 de julho de 2010

A taça do mundo é nossa! - XIV, Por una cabeza

Os jogadores já comemoravam no cartaz o título argentino de 78

Entusiasmados com mais uma de suas ditaduras, a do momento só tinha dois anos, começara em 1976, os militares argentinos investiram fundo na copa de 1978. Um orçamento inicial de 70 milhões de dólares foi parar em 700 milhões. Organizaram uma copa cheia de estratégias e tiveram a aprovação da FIFA. A seleção da casa jogaria praticamente só em Buenos Aires. Já o Brasil, que saiu invicto, contabilizou 4.659 km viajados dentro de um país de tamanho médio, como a Argentina. Mas, cá para nós, atravessamos a fronteira como se fôssemos a uma tangueria. Era como jugar en casa. O clima, a cultura, a catimba portenha, tudo manjado. Não levamos Falcão e outros craques já provados e aprovados que o nosso técnico frasista preferiu a outros. Era a copa do overlaping e de outras técnicas de tabuleiro que nossos jogadores achavam muito teóricas para aplicar dentro de campo após o apito do árbitro. Muitos estádios ficaram prontos em cima da hora e era normal ver as leivas de grama, que se soltavam a cada chute, serem levadas junto com a bola. Lembrando 1966, na Inglaterra, os árbitros apresentaram muitos problemas e também tiveram problemas. Nosso Arnaldo Cesar Coelho não pode iniciar o jogo França e Hungria no horário, pois as duas seleções entraram em campo de uniforme branco... Já o galês Clive Thomas, apitou o final do jogo Brasil e Suécia quando Zico, após cobrança de escanteio, subia e cabeceava a bola. O apito soou na metade do trajeto da bola que acabou balançando a rede para alívio da torcida que achava que o placar seria 2x1 para o Brasil. Bem, esse árbitro foi punido severamente e nunca mais apitou, mas na súmula ficou registrado o placar de 1x1. Havia também a denúncia, do jornal inglês Sunday Times, sobre os exames antidoping. Dizia o jornal que a Argentina teria contratado um cara só para urinar no vestiário enquanto os atletas da sua seleção tomavam fortes anfetaminas. Uma bobagem, mas a imprensa internacional via a seleção argentina avançando, aos empurrões, metendo a cabeça, mas avançando. O povo portenho assistia a tudo dividido. A eterna confusão entre pátria e futebol era um divisor de águas; de um lado o governo militar aproveitava o clima de copa do mundo para arrochar ainda mais o regime. Prender, torturar e sequestrar, inclusive, crianças, deixando na Argentina as marcas da mais sangrenta das ditaduras da América Latina do século vinte; do outro lado, os torcedores sentiam a necessidade de vibrar pelos seus ídolos do futebol e procuraram esquecer, pelo menos naquele período, todos os problemas do país. Nosso jogo com eles, já na fase final de classificação, ficou empatado. A nossa seleção, que custara a desencantar, bateu o Peru, de Cubillas, por 3x0. A dona da casa que só ganhara de 2x0 da Polônia, só se classificaria se passasse o Brasil na última rodada. Mas os generais nem queriam saber. Então, a TV argentina, alegando dificuldades com a transmissão simultânea que era gerada em cores, pediu à FIFA para que os jogos acontecessem em horários diferentes. Mudaram as regras na base da catimba, e a FIFA tomou um verdadeiro frango. Ganhamos da Polônia, à tarde por 3x1, e os argentinos entraram em campo, à noitinha, na obrigação de golear o Peru para chegarem à final. Isso seria muito difícil, pois a seleção treinada por Menotti, jogando a fase classificatória com seleções mais fracas, não passara nunca de três gols. Mas pelas “dificuldades com a transmissão simultânea que era gerada em cores...” eles ficaram sabendo que precisavam golear a seleção peruana, cujo goleiro era argentino de nascimento... Não deu outra. Enquanto o Brasil comemorava a ida à final para enfrentar a Holanda, sem Cruijff, que não comparecera à copa em protesto à ditadura de Galttieri, a Argentina foi fazendo no Peru todos os gols de que precisava. Não fez só quatro, fez seis. Seis a zero. Nosso técnico frasista, cunhou então sua máxima: “O Brasil foi o campeão moral da copa!” Para esse nosso título, inventado na hora, não havia taça nenhuma. A Argentina, que acabou vencendo na final a seleção da Holanda, foi a Campeã do Mundo. Ela ganhou seu primeiro título Por una cabeza, mas ganhou!


Fonte FIFA e arquivo de jornais


(continua)

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