17 de julho de 2010

O inverno de Dom Diogo

Dom Diogo de Souza acampou às margens
do Passo do Príncipe em julho de 1811

para descansar sua tropa, consertar alguma coisa
e esperar passar

os rigores do inverno pampeano que branqueava campos

e congelava sangas.

Mas ao receber ordem da corte portuguesa
de partir para a banda oriental,

deixou muita gente acampada por lá,
onde até os animais sentiam frio

pastos viravam espinhos de gelo

e árvores ornamentavam com a poética geada
o lugar que receberia o nome de
BAGÉ
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Hoje, no aniversário de 199 anos de Bagé, o Hamilton nos manda este relato simples e objetivo que demonstra como um inverno rigoroso pode servir como fato gerador de várias coisas, inclusive de fundação de uma cidade. Quando passarmos outra vez pelo Passo do Príncipe, vamos tentar imaginar Dom Diogo com sua tropa, sua gente, sua família, seus animais... ali, na beira desse arroio, onde outras garças, joãos-grandes e outros guris como o Hamilton, já pescavam lambaris e carás há quase duzentos anos...
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As fotografias, enviadas pela Clara Marineli, foram tomadas na região de Palmas, nestes dias de inverno rigoroso.

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"Quando eu era guri, nos anos 50, minha família morou em uma chácara que existia no final da rua Gomes Carneiro, o número era 852. Distante apenas algumas centenas de metros, está o Passo do Príncipe, que fica na Rua do Acampamento, aquela rua que leva aos Cerros de Bagé. O arroio que passa ali ainda tinha águas transparentes e era cheio de lambaris e carás, que serviam de pesca para garças, joão-grandes e para os guris. Entrar na água do arroio, no fundo da chácara, era uma grande e perigosa diversão.
No início do inverno de 1811, o exército de Dom Diogo de Souza esteve acampado ali, na beira desse arroio, aguardando uma melhora no rigoroso inverno da região para prosseguir sua marcha. Foi então que no dia 17 de julho, uma quarta-feira, D. Diogo, cumprindo ordem da coroa portuguesa, partiu em direção a Banda Oriental del Uruguay (que depois seria o Uruguai, independente), tentando conter as constantes invasões dos espanhóis. Ficaram alguns militares, suas famílias e mais algumas pessoas, nesse acampamento, começando dessa maneira a nascer Bagé. Passaram-se 199 invernos. O frio, que é a marca da nossa cidade, foi também a causa que lhe deu origem."
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Enviado pelo colega
Hamilton Caio
membro do NPHTT

11 comentários:

Gerson Mendes Corrêa disse...

Essa cidade que nascemos é mesmo importante! Muito bom esse relato do Hamilton. Digamos que uma grande parte dos bageenses não sabem como nasceu essa cidade tão lembrada em verso e proza por nós Velha Guarda do Estadual.

Manoel Ianzer disse...

Nascer em BAGÉ é:
"galopar nas asas do minuano" e sair pelo mundo espalhando tradição e alegria.

Hamilton Caio disse...

Bem, colegas e amigos do Estadual, o Vaz não gosta e eu sempre evito, mas vou "rasgar seda", como costuma-se dizer. Mais precisamente, vai parecer que estou "rasgando seda", pois qualquer referência positiva que alguém faça de outro colega, vai parecer isso, troca de elogios. Porém, quando se quer salientar um detalhe importante, e não há outra maneira, mostremos os fatos. Mas, indo direto ao ponto. O Vaz havia conversado comigo, sobre postar um resumo histórico de Bagé, fazendo referência aos 199 anos, hoje, do início do povoado. Ele passou a bola para mim, sem direito a chutar de volta. Já havíamos optado por um resumo simples e ele sugeriu que a gente colocasse "uma cor local" (termo que ele usou) no pequeno histórico. Tivemos a sorte de lembrar de elementos que dariam essa tônica, e saiu um texto resumido e simples, quase familiar. Mas, o que eu quero salientar é o resultado final que ele conseguiu, juntando os ingredientes que recebeu: as fotos do inverno que a Clara enviou e depois o texto que remeti. Eu sou suspeito para falar, porque gosto de bons títulos e de pequenos detalhes que instigam o leitor. Pois ele usou isso muito bem, nesse texto, começando por um título contundente, definitivo, o ponto chave dessa passagem histórica, e depois, usando as fotos das geadas, deste julho "bem de Bagé", já fez a "introdução" no texto, com as legendas apropriadas, tal qual alguns acordes iniciais fazem a introdução em uma sinfonia. E para minha surpresa, entrou um elemento pouco comum ao frio, um arco-íris, que ele descobriu com as cores portuguesas, ilustrando a origem das ordens recebidas por D. Diogo. Concluindo, um texto simples e resumido, sobre a origem de Bagé, acabou se transformando em uma narrativa colorida, em todos os sentidos, e uma história agradável de ler e ver. Parabéns, Vaz.

Luiz Carlos Vaz disse...

Gerson, esse relato do Hamilton é, sem sombra de dúvida, o mais singelo e real que eu já li. Conta, sem rodeios, a situação ímpar que resultou na fundação de nossa cidade. Assim todos os relatos históricos pudessem ter esse poder de síntese que o colega Hamilton revelou em sua breve narrativa.

Luiz Carlos Vaz disse...

Ianzer, é uma boa frase para esse dia de aniversário da cidade.

Luiz Carlos Vaz disse...

Hamilton, até ontem eu estava quase sem nada de interessante para postar sobre o aniversário da cidade. As ideias foram se juntando e o material que foi chegando se complementou de tal forma que deu no que deu. Com colegas assim, é fácil fazer um Blog. Sorte nossa.

Hamilton Caio disse...

Um 17 de julho de 2010, em Bagé, certamente muito parecido com aqueles dias dos meses de 1811, que D. Diogo e seu exército lusitano enfrentaram nesta região, com chuva e frio. Aquela época ainda era o auge da Cavalaria, e com o transporte terrestre de armas e materiais feitos essencialmente por meios hipomóveis, o problema era muito sensível. Como se dizia nos tempos de antanho, frio e chuva juntos, congelam até a alma. O frio seco é bem tolerável, mas quando também tem a chuva, pode ficar quase insuportável. O frio já rouba calor de homens e animais, mas quando se soma a chuva (umidade), o calor gasto pelos organismos para repor essa energia roubada pela água, pode se multiplicar por várias vezes o que é gasto para manter a temperatura só com o frio seco. Portanto, o problema é do homem e também de sua montaria. Eu sempre relembro dois episódios importantes, dentre outros, dos efeitos de um inverno rigoroso em operações militares: a invasão da Rússia por Napoleão Bonaparte, em 1812, e, novamente, a invasão da Rússia, então fazendo parte da União Soviética, pelos nazistas em 1941, durante a Segunda Guerra Mundial. Em ambos os casos, o "general inverno", como historiadores chamaram a ação do frio em campanhas militares, combinado com outras ações militares, teve efeitos decisivos na mudança de rumo das campanhas. Nas duas guerras, o frio congelou tropas e imobilizou equipamentos. Na campanha de Napoleão, foram homens e cavalos a morrerem com os rigores do frio. Na 2a Guerra Mundial, mesmo os nazistas tendo usado forças motorizadas e blindados, foram surpreendidos pela neve, frio e lama, que congelaram tropas e novamente imobilizaram armamentos e equipamentos.

Manoel Ianzer disse...

DE UMA ORDEM DE D. JOÃO VI
NASCEU A CIDADE DE BAGÉ

D.Diogo segue a caminho do Uruguai, nas terras de Santa Tecla, deixa famílias estabelecidas na região. Assim teve início a Capital da Fronteira.

D.DIOGO DE SOUSA
-Vice-Rei da Índia.
-Ministro da Guerra do Rei de Portugal D. Miguel.
-Primeiro governador do Rio G. Sul.
-Fundador de Bagé e de Torres.
-Amigo de D. João VI.

Obs:Dedico ao Hamilton que gosta muito de história e a instruída e civilizada população de Bagé.

Luiz Carlos Vaz disse...

Hamilton, desse feito do "general inverno" é que vem a "Abertura 1812" do Tchaikovsky?

Hamilton Caio disse...

Ianzer, obrigado! Tuas cronologias históricas são sempre oportunas e bem recebidas.
E para saber sobre o futuro, não precisamos consultar o oráculo, basta olhar a História, a mestra da humanidade.

Hamilton Caio disse...

Vaz, exatamente, um detalhe musical bem lembrado. Foi uma composição feita sob encomenda, para celebrar a vitória russa na guerra contra Napoleão. O general francês recebeu até "fogo cruzado musical", pois Beethoven também compôs uma obra, uma sinfonia especial, além das famosas nove sinfonias, para comemorar a derrota de Napoleão na decisiva Batalha de Waterloo, em 1815. Essa composição foi chamada de "A Vitória de Wellington", também conhecida como "A Batalha da Vitória". É dividida em duas partes: "A Batalha" e "Sinfonia da Vitória". Ambas tem "acompanhamento" de tiros de canhão! Na obra de Beethoven há também tiros de mosquetes. Essas duas composições fazem parte das minhas primeiras aquisições de LPs de música erudita, nos anos 60, e esses discos estão ainda conservadíssimos. É interessante transcrever um resumo descritivo sobre a Abertura 1812, do Tchaikowsky, que tenho junto com o disco: "Em 1880 Tchaikowsky foi encarregado de compor música para a consagração da Catedral de Cristo, em Moscou, erigida em ação de graças pela vitória russa sobre Napoleão, 68 anos antes. O composiitor achou que sua obra devia reconstruir em música o choque de exércitos poderosos. A abertura foi orquestrada não só para uma gigantesca orquestra com uma enorme seção de instrumentos de percussão, mas também para uma bateria de canhões de campanha! Estes deviam ser colocados a alguma distância e disparados pelo próprio regente... por meio de uma chave elétrica. Depois de uma introdução solene na qual se houve o antigo hino russo, 'Ó Deus Preserva Teu Povo', a abertura começa uma pitoresca descrição da Batalha de Borodino, na qual se pode distinguir o avanço das forças contrárias pela preeminência relativa de seus respectivos hinos: a 'Marselhesa' de um lado e 'Deus Salve o Czar' do outro. Por fim, os russos triunfam, os franceses são derrotados, e os sinos de Moscou tocam festivamente."
A descrição não cita, mas o toque de sinos também faz parte da música, e eram acionados da mesma maneira que os canhões.
Bem, com o roteiro da música em mãos, agora é só colocar o disco e apreciar!...