Casal da região de Porongos, Pinheiro Machado,
na praça Silveira Martins em Bagé, ano 1943.
Foto feita com a técnica “lambe-lambe”.
Acervo particular do autor.
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"Quem ainda não ouviu, mesmo de
brincadeira, a expressão “Olha o passarinho!...” dita por alguém que está
prestes a pressionar o botão do disparador de uma máquina fotográfica?
Modernamente, influenciados
principalmente pelas novidades trazidas até nós pelo cinema, poderemos, ao
invés de fixar o olhar no passarinho imaginário, sermos convidados a dizer
xisss, (do inglês: cheese) ou até
mesmo whisky, a expressão platense
imortalizada no filme de mesmo nome dos diretores uruguaios Juan Pablo Rebella
e Pablo Stoll.
Mas, como é difícil ficar à vontade
diante de uma câmera! Só a Gisele consegue, nós não. Nós, os seres não-Giseles,
mostraremos uma cara surpreendida, um sorriso amarelo, fazendo uma pose
estudada – ou até mesmo constrangida, para uma lembrança visual que ficará
imortalizada pela ação do click fotográfico.
Eu lembro quando era comum, num
passado bem próximo, a figura do fotógrafo lambe-lambe nas praças das cidades.
Eu lembro que era comum pessoas se dirigirem a esses estúdios em plena rua para
“tirarem as fotos” do dia do aniversário, com o novo corte do cabelo,
acompanhados do parente distante que visitava naquele dia... e terem solicitada
a atenção momentânea pelo fotógrafo: Atenção... olha o passarinho! Dizia ele. O
mágico momento quando era preciso fixar os olhos num ponto inexistente, não
poder piscar, não poder pensar em nada, ter que prender a respiração como no
momento de fazer um raio-x.
Tentar ficar com a naturalidade da
Gisele. Depois esperar o esclarecimento da dúvida: piscamos os olhos? Sorrimos?
Olhamos para o lado? Ah! E se trememos um pouco?... momentos depois tudo se esclarecia.
A magia acontecida no interior da caixa escura logo se desvendava na bacia com
água enquanto o homem que saíra debaixo do pano preto lavava, sorrindo, a
fotografia recém fixada... a foto-rápida, a que não servia para documentos mas
que guardava o momento mágico em que olhamos fixamente para um passarinho
inexistente, quando dissemos queijo ou uísque, quando teremos gravado numa
fotografia a memória daquela hora, o registro para o futuro da ocasião única.
Tudo porque fixamos o olhar num ponto
ficcional, prendemos a respiração, ficamos imóveis. São essas imagens que vão
contar nossa vida, são elas que dirão quem fomos, se fizemos um corte novo de
cabelo, cumprimos aniversário ou recebemos a visita do padrinho. Mesmo agora
quando já se foram todos os lambe-lambes, quando as máquinas eletrônicas soam
um falso click chiado para dizer que o instante mítico já passou, que já não
precisamos esperar a lavagem na bacia e que, se saímos de olhos fechados,
podemos clicar outra vez, e mais outra, e outra, até ficarmos com a
naturalidade, ou nem tanto, da Gisele. Basta ficarmos de olhos abertos, sem
tremer, olhando simplesmente para o passarinho. São muitas imagens, são muitos
momentos. Muitos até bem banais, sem uma maior importância, com o cabelo de
sempre, com o parente que mora na esquina, num dia qualquer do ano.
São milhares de clicks! E pronto.
Gisele já pode se mexer, já pode andar novamente, já pode voltar a pensar, já
pode respirar. O homem que saiu debaixo do pano virtual já lavou a fotografia
na bacia do photoshop, o sorriso de Gisele já aparecerá na hora, ela estará
linda, ela não terá fechado os olhos, ela estará olhando para frente e não terá
tremido de emoção. E ela nem disse queijo ou uísque. Aliás, ela nem precisou
olhar o passarinho..."
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Luiz Carlos Vaz
Artigo publicado no jornal Amanhã, de Jaguarão, em 2008. Como hoje a Gisele Bündchen está fazendo 30 anos, lembrei de publicá-lo aqui, dentro da série "Olha o passarinho!"
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2 comentários:
A Gisele
soube tirar proveito
com seu encanto doce
colheu grandes troféus
É uma mulher realizada
que maravilhou
e ainda deslumbra
o mundo
Olha só o Ianzer...
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