20 de julho de 2010

Olha o passarinho! - III, Whisky, Gisele...


Casal da região de Porongos, Pinheiro Machado,
na praça Silveira Martins em Bagé, ano 1943.
Foto feita com a técnica “lambe-lambe”.
Acervo particular do autor.
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"Quem ainda não ouviu, mesmo de brincadeira, a expressão “Olha o passarinho!...” dita por alguém que está prestes a pressionar o botão do disparador de uma máquina fotográfica?

Modernamente, influenciados principalmente pelas novidades trazidas até nós pelo cinema, poderemos, ao invés de fixar o olhar no passarinho imaginário, sermos convidados a dizer xisss, (do inglês: cheese) ou até mesmo whisky, a expressão platense imortalizada no filme de mesmo nome dos diretores uruguaios Juan Pablo Rebella e Pablo Stoll.

Mas, como é difícil ficar à vontade diante de uma câmera! Só a Gisele consegue, nós não. Nós, os seres não-Giseles, mostraremos uma cara surpreendida, um sorriso amarelo, fazendo uma pose estudada – ou até mesmo constrangida, para uma lembrança visual que ficará imortalizada pela ação do click fotográfico.

Eu lembro quando era comum, num passado bem próximo, a figura do fotógrafo lambe-lambe nas praças das cidades. Eu lembro que era comum pessoas se dirigirem a esses estúdios em plena rua para “tirarem as fotos” do dia do aniversário, com o novo corte do cabelo, acompanhados do parente distante que visitava naquele dia... e terem solicitada a atenção momentânea pelo fotógrafo: Atenção... olha o passarinho! Dizia ele. O mágico momento quando era preciso fixar os olhos num ponto inexistente, não poder piscar, não poder pensar em nada, ter que prender a respiração como no momento de fazer um raio-x.

Tentar ficar com a naturalidade da Gisele. Depois esperar o esclarecimento da dúvida: piscamos os olhos? Sorrimos? Olhamos para o lado? Ah! E se trememos um pouco?... momentos depois tudo se esclarecia. A magia acontecida no interior da caixa escura logo se desvendava na bacia com água enquanto o homem que saíra debaixo do pano preto lavava, sorrindo, a fotografia recém fixada... a foto-rápida, a que não servia para documentos mas que guardava o momento mágico em que olhamos fixamente para um passarinho inexistente, quando dissemos queijo ou uísque, quando teremos gravado numa fotografia a memória daquela hora, o registro para o futuro da ocasião única.

Tudo porque fixamos o olhar num ponto ficcional, prendemos a respiração, ficamos imóveis. São essas imagens que vão contar nossa vida, são elas que dirão quem fomos, se fizemos um corte novo de cabelo, cumprimos aniversário ou recebemos a visita do padrinho. Mesmo agora quando já se foram todos os lambe-lambes, quando as máquinas eletrônicas soam um falso click chiado para dizer que o instante mítico já passou, que já não precisamos esperar a lavagem na bacia e que, se saímos de olhos fechados, podemos clicar outra vez, e mais outra, e outra, até ficarmos com a naturalidade, ou nem tanto, da Gisele. Basta ficarmos de olhos abertos, sem tremer, olhando simplesmente para o passarinho. São muitas imagens, são muitos momentos. Muitos até bem banais, sem uma maior importância, com o cabelo de sempre, com o parente que mora na esquina, num dia qualquer do ano.

São milhares de clicks! E pronto. Gisele já pode se mexer, já pode andar novamente, já pode voltar a pensar, já pode respirar. O homem que saiu debaixo do pano virtual já lavou a fotografia na bacia do photoshop, o sorriso de Gisele já aparecerá na hora, ela estará linda, ela não terá fechado os olhos, ela estará olhando para frente e não terá tremido de emoção. E ela nem disse queijo ou uísque. Aliás, ela nem precisou olhar o passarinho..."
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Luiz Carlos Vaz


Artigo publicado no jornal Amanhã, de Jaguarão, em 2008. Como hoje a Gisele Bündchen está fazendo 30 anos, lembrei de publicá-lo aqui, dentro da série "Olha o passarinho!"
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2 comentários:

Manoel Ianzer disse...

A Gisele
soube tirar proveito
com seu encanto doce
colheu grandes troféus

É uma mulher realizada
que maravilhou
e ainda deslumbra
o mundo

Luiz Carlos Vaz disse...

Olha só o Ianzer...