16 de julho de 2010

O inverno (como antigamente...)

Foto de uma bela geada, feita pelo colega Sidney Olle


Inverno

Quando eu me for, no meio da chuva fina,


Planta-me uma folha em si menor,

Num sol maior dissonante

De bergamotas descascadas na soleira

Do inverno da minha infância.


Devagar como quem aprende a soletrar


Murmuro os nomes de minuanos,

Ventos navegantes que me alçaram ao sul,

Primeiro desterro,

Circulando ao redor do mistério.


Nada será lembrado que não for verdadeiro,


Todas as pequenas mentiras e todos os enganos

Serão somados ao receituário de vacinas.

Quero cantigas antigas e rocks caseiros.

Palavras como pão com manteiga, café com leite.


Mas toda vez que vier a chuva fina, como hoje,


Te levo também, inverno ensaiando

O caminhozinho lilás, aquarela

De cais e nuvens desfiadas,

Te embarco junto com o mais sagrado.


E quando eu for, memória de cascas,


Linha circular, pó de umbigo, rirei,

À toa, vadia como as rotas que me levaram,

Encharcada de sal, náufrago avistando a terra

De uma primavera.


Isolde Bosak, 2010
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(publicada no blog ARdoTEmpo)
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Um comentário:

Anônimo disse...

Linda cena ! campos brancos de geada, essa é a minha rainha da fronteira!!!